Nesta quarta-feira (29), deputados das federações Psol-Rede e PT-PCdoB-PV se reuniram na Câmara dos Deputados para criticar violentamente a “Operação Contenção” realizada pelas polícias do Rio de Janeiro nos complexos do Alemão e da Penha. Com um foco central na captura de lideranças do Comando Vermelho, a operação resultou em um número alarmante de mais de 100 mortos, suscitando questões profundas sobre a abordagem adotada pelo governo do estado em sua política de segurança pública.
Acusações de chacina
Durante a coletiva de imprensa, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, deputado Reimont (PT-RJ), afirmou que o número de mortos pode ter ultrapassado 200 e classificou a operação como “a maior chacina do Brasil, superando a do Carandiru”. Ele descreveu esse episódio como uma “chacina continuada”, que se repete em diversas ações policiais e levanta preocupações acerca da eficiência e moralidade das práticas de segurança do estado.
A deputada Talíria Petrone (Psol-RJ) complementou essa crítica ao afirmar que a operação evidência a “falta de planejamento” do governo fluminense e ressaltou as consequências devastadoras do atual modelo de enfrentamento das organizações criminosas. Ela afirmou com ênfase: “Há décadas a gente enxuga sangue, e as famílias continuam sendo destruídas por um modelo de segurança pública encampado pelo governador Cláudio Castro, que é incompetente e covarde.”
O deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), por sua vez, destacou que a ação foi “a mais letal da história do Rio de Janeiro” e pediu a aprovação da PEC da Segurança, uma proposta de emenda que visa garantir uma política de segurança mais inteligente e cidadã. “O governador Cláudio Castro insiste em um modelo falido, que ao invés de privilegiar inteligência e integração, prefere operações de guerra”, afirmou o parlamentar.
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) também criticou a atuação do governo e afirmou: “A política de segurança de Cláudio Castro é a política da chacina. Um governo que transforma medo e morte em palanque eleitoral. O Rio precisa de inteligência e planejamento, não de operações que executam o próprio povo.”
Resposta e defesas
Em contraponto às críticas, parlamentares de partidos de direita defenderam a ação das forças de segurança do Rio. O deputado Rodrigo Valadares (União-SE) justificou a operação como uma linha de defesa necessária contra a violência e o crime organizado. “Esses criminosos não respeitam a lei, nem a vida. A polícia do Rio fez o que precisava ser feito para garantir a segurança da população de bem”, declarou.
O deputado Delegado Caveira (PL-PA) também se posicionou em apoio à intervenção policial e criticou as reações opostas, enfatizando que a realidade enfrentada na linha de frente da luta contra o tráfico é muito distinta da que é discutida nas esferas legislativas. “É fácil condenar a polícia de dentro do ar-condicionado. Lá na ponta, quem enfrenta o tráfico arrisca a vida todos os dias. Não há chacina, há legítima defesa da sociedade contra o crime”, afirmou.
O deputado Sargento Gonçalves (PL-RN) reiterou essa abordagem, afirmando que a operação foi resultado de “planejamento e coragem”, destacando que a polícia agiu com base em informações de inteligência. “O que não podemos aceitar é que bandidos armados controlem territórios e amedrontem comunidades inteiras”, concluiu.
Denúncias de tortura
Além das críticas e defesas da operação, famílias e lideranças comunitárias relataram à Agência Brasil que a “Operação Contenção” foi marcada por execuções e torturas. As estratégias das polícias envolviam invasões às comunidades, com montagem de cercos pelos agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope), efetivamente bloqueando a fuga dos suspeitos. Os relatos indicam que os confrontos mais intensos resultaram em evidências claras de violência sistemática e execuções, com muitos corpos sendo resgatados e dispostos em locais decentes, como na Praça São Lucas.
A Comissão de Direitos Humanos programou uma visita ao Complexo do Alemão, ao Instituto Médico-Legal (IML), à Defensoria Pública do Rio de Janeiro e à Procuradoria-Geral de Justiça do estado, onde pretendem acompanhar as investigações e ouvir os familiares das vítimas. Estes movimentos demonstram uma crescente preocupação não apenas com a segurança nas comunidades, mas também com o respeito aos direitos humanos na execução de ações policiais.
*Com informações da Agência Câmara



