O governo Lula manteve a cerimônia de posse do novo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, para a tarde desta quarta-feira no Planalto, mesmo com a crise de segurança pública do Rio de Janeiro. Em seu discurso, Boulos criticou indiretamente a megaoperação policial do governo do Rio que deixou ao menos 119 mortos, evidenciando o tenso cenário que permeia o evento.
Boulos critica a operação policial no Rio de Janeiro
Boulos iniciou seu discurso com um agradecimento ao trabalho de Macêdo de “reconstrução” da articulação com movimentos sociais, e pediu um minuto de silêncio em homenagem aos mortos na referida operação. O novo ministro fez questão de ressaltar seu orgulho de fazer parte do governo de um presidente que entende que a cabeça do crime organizado não está nas favelas, mas muitas vezes em lugares como a Faria Lima, citando a operação Carbono Oculto da Polícia Federal como um exemplo disso. Essa declaração, apresentada de forma crítica à operação policial do governo de Cláudio Castro (PL), destaca a postura de Boulos frente à complexidade da questão da segurança pública.
Expectativas para o novo cargo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou da posse de Boulos, mas optou por não discursar. Em compensação, Lula conduziu uma reunião de emergência com seus ministros no Palácio da Alvorada logo pela manhã. Boulos, eleito deputado federal pelo PSOL em São Paulo, assume o cargo de ministro no lugar do petista Márcio Macêdo, uma troca que foi discutida por aliados de Lula ao longo do último ano e oficializada em 21 de outubro.
A cerimônia contou com a presença de cerca de mil pessoas, incluindo ministros de destaque como Geraldo Alckmin (vice-presidente), Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) e Fernando Haddad (Fazenda), além de representantes de movimentos sociais e centrais sindicais. A presença maciça de figuras importantes reforçou o simbolismo do momento para a gestão de Lula e sua estratégia política.
O foco do ministro: articular e viajar
A missão que Boulos recebeu do presidente é clara: “colocar o governo na rua”. Para isso, o novo ministro deve iniciar um roteiro de viagens pelos 26 estados do Brasil, com a intenção de fazer uma viagem por semana. Esta estratégia visa divulgar as ações do governo e, ao mesmo tempo, preparar o terreno para a candidatura à reeleição de Lula em 2026. Durante uma visita à Indonésia, Lula afirmou pela primeira vez, de forma categórica e sem ressalvas, que irá concorrer a um novo mandato, contrariando o compromisso anterior que assumira durante a eleição de 2022.
A preparação de Boulos para suas novas responsabilidades não começou no momento da posse. Na semana passada, ele se reuniu com Macêdo para realizar a transição do cargo e discutir a formação de sua equipe na nova pasta, que é responsável pela articulação com movimentos sociais. Isso implica um trabalho fundamental para trazer as vozes da sociedade civil para a mesa de diálogo do governo.
O passado político de Guilherme Boulos
Guilherme Boulos é uma figura proeminente na política brasileira, tendo iniciado sua carreira no Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que atua nas periferias das grandes cidades do Brasil. Boulos já se candidatou à Presidência da República em 2018 e à Prefeitura de São Paulo em 2020 e 2024, demonstrando uma trajetória marcada pelo ativismo social e pelo envolvimento político. Sua proximidade com Lula remonta à década passada, quando o líder sem-teto esteve ao lado do petista durante seu período de prisão em 2018.
Essa relação pessoal e política entre Boulos e Lula, caracterizada por um suporte mútuo, é essencial para entender a escolha de Boulos para a Secretaria-Geral da Presidência. Este novo cargo possibilitará a ele não apenas implementar políticas públicas voltadas para a equidade e justiça social, mas também atuar no cenário político nacional com um enfoque abrangente e reformista.
Embora a posse de Boulos ocorra em um contexto de grande agitação e sensibilidade social, suas experiências e convicções podem proporcionar uma nova atmosfera para a articulação do governo com movimentos sociais, além de influenciar a narrativa política que se aproxima das eleições de 2026. Assim, Boulos não só assume um importante cargo no governo, mas também carrega consigo as expectativas de muitos que acreditam em mudanças significativas para a sociedade brasileira.



