Recentemente, em um clube de praia em Honduras, conversei com Tristan Roberts, um dos cofundadores da Minicircle que decidiu deixar a empresa. Durante nosso bate-papo, explorei o que ainda poderia atrair pessoas a conduzir testes humanos no país, especialmente após a recente decisão do governo. Apesar das mudanças, Roberts observou que a regulação ainda era bastante flexível. Uma empresa americana operando em Próspera não precisa utilizar produtos certificados pela CGMP (Current Good Manufacturing Practice), o que pode abrir portas para estudos clínicos em condições menos rigorosas.
A atração das pesquisas em Honduras
O cenário em Honduras, apesar da controvérsia, pode ser visto como um espaço para testes de novas ideias médicas. De acordo com Roberts, como não existem exigências rígidas de qualidade, uma empresa pode iniciar um pequeno estudo de forma ágil, assumindo a responsabilidade por possíveis problemas. Ele comentou que essa situação é ideal para um estudo piloto, especialmente em suas fases iniciais, onde são testados conceitos mais arriscados com pessoas de confiança, como fundadores e investidores.
“A opção de trabalhar com a clínica GARM e obter aprovação pela sua IRB geralmente leva apenas semanas,” disse Roberts, ressaltando a rapidez com que é possível avançar com ensaios clínicos em Honduras em comparação com os Estados Unidos. Essa celeridade, embora atraente, levanta questões éticas e de segurança, especialmente quando se pensa no histórico de Roberts em testes experimentais.
O histórico de Tristan Roberts e as implicações éticas
Roberts ganhou notoriedade em 2017 ao se injetar, ao vivo no Facebook, com uma terapia gênica experimental destinada ao tratamento de HIV. No entanto, em vez de melhorar sua condição, sua carga viral aumentou. O episódio foi marcado por controvérsias, especialmente após a pressão de outro biohacker, Aaron Traywick, que na época da injeção em diante, tentava convencê-lo a repetir a dose em uma apresentação pública. Traywick, que mais tarde morreu em circunstâncias trágicas, representava a intensa e arriscada cultura do biohacking, que busca desafiar as normas de segurança e eficácia.
Para Roberts, suas experiências pessoais servem como um alerta sobre os riscos de se aventurar por caminhos não regulamentados. “É difícil conseguir suprimentos laboratoriais e clínicos, e a realização de testes de acompanhamento pode ser complicada”, ele reconhece. Atualmente, Roberts direciona sua atenção para terapias gênicas específicas, como a utilização de follistatina em tratamentos para cães, buscando novas formas de abordar a medicina de maneira inovadora e segura.
A crítica ao status quo na pesquisa médica
Apesar das dificuldades, Tristan Roberts mantém uma visão crítica sobre o atual sistema de pesquisa médica, que considera falho em muitos aspectos. Em suas palavras, “pensamos em países latino-americanos como corrompidos, onde é possível subornar oficiais. No entanto, nos Estados Unidos, temos uma versão sofisticada de corrupção, onde a falta de recursos financeiros impede que inovações médicas sejam apreciadas.” Essa perspectiva desafia a ideia de que apenas a corrupção em ambientes menos regulamentados é o problema, colocando em foco a complexidade do mercado de saúde nos EUA.
Roberts parece acreditar que a inovação médica deve ser mais acessível, especialmente em países como Honduras, onde as barrreiras financeiras e logísticas são menores. Essa visão acende um debate importante sobre a ética das pesquisas médicas e a responsabilidade das empresas perante os voluntários em ensaios clínicos.
Procurar um equilíbrio entre a inovação, a ética e a segurança deve ser um foco central para qualquer novo empreendimento clínico. Enquanto Honduras explora novas oportunidades no setor de saúde, o caminho a seguir deve levar em consideração não apenas a agilidade das pesquisas, mas também o bem-estar e a proteção dos participantes nos testes.
Com a crescente busca por inovações médicas também surge a responsabilidade de garantir práticas seguras e éticas, para que a história de Tristan Roberts e tantos outros não se repita de maneira trágica. Afinal, a luta por avanços tecnológicos e científicos deve caminhar lado a lado com a compaixão e o respeito pela vida.


