Na manhã do último dia 2025, uma operação policial que mobilizou cerca de 2.500 agentes resultou em um dos dias mais sangrentos da história do Rio de Janeiro. Com um saldo de pelo menos 64 mortos, incluindo quatro policiais, a ação se tornou um potente símbolo da crise de segurança que assola o estado. O governador Cláudio Castro, que promoveu intensamente a operação, utilizou as redes sociais para divulgar um vídeo que, apesar de capturar o drama das autoridades, gerou polêmica por sua natureza apelativa e pela maneira como extraiu capital político de uma tragédia.
Uma operação sob as câmaras
Logo pela manhã, um vídeo gravado durante a operação circulou nas redes sociais, apresentado com uma trilha sonora digna de um filme de ação. A produção ostentava imagens de policiais fardados, viaturas em alta velocidade e um arsenal de armamento pesados. Contudo, enquanto as cenas impactantes eram exibidas, não se viu a menção ao custo humano da operação, que, conforme bem notado, deixou dezenas de corpos nas favelas da Penha e do Alemão.
Autopromoção em meio ao caos
Com uma marca d’água sugerindo que os cidadãos seguissem seu perfil pessoal, Castro aproveitou a operação para se posicionar como um defensor da segurança pública, em um claro movimento de autopromoção. Em discurso após a operação, ele se atentou em criticar o governo federal e o Supremo Tribunal Federal (STF), alegando que o estado está “sozinho” na luta contra o crime organizado. Ao tentar desviar a responsabilidade para esferas superiores, Castro parecia buscar um bode expiatório para o fracasso de suas próprias políticas de segurança, em um contexto marcado pelo aumento da violência nas comunidades.
Ramalhete de críticas e apelos por ajuda
Ao mesmo tempo, as palavras do governador foram recebidas com um misto de ceticismo e preocupação. O ministro do STF, Ricardo Lewandowski, apontou que não havia solicitações formais de ajuda antes ou durante a operação e alertou que Castro corre o risco de estar “sendo engolido pelo crime”. A falta de apoio desde instâncias superiores levanta questionamentos sobre a capacidade real do estado em controlar a criminalidade sem medidas mais drásticas, como a implementação de uma intervenção federal.
Um dia de pânico para a população
Enquanto as autoridades se engajavam em discussões políticas, a população carioca vivenciava um dia repleto de terror e incerteza. Múltiplas vias expressas foram fechadas devido ao conflito, o tráfico de drogas sequestrou aproximadamente 70 ônibus e montou barricadas em diversos bairros, resultando em uma crise de transporte público que deixou muitos sem conseguir chegar em casa. A sensação de insegurança se fez presente na vida cotidiana dos cidadãos, que assistiam, impotentes, ao desenrolar dos eventos.
O saldo da operação e suas repercussões
Apesar da prisão de 81 pessoas e da apreensão de 93 fuzis, permanece a questão: essa medida terá um impacto significativo nas atividades do Comando Vermelho e na rotina das comunidades afetadas? A história recente do estado sugere que ações como esta, embora visíveis, muitas vezes não resolvem as raízes da criminalidade.
A política da segurança e o futuro de Castro
Com sua popularidade em queda e um futuro político repleto de incertezas, a gestão de Castro parece estar intensificando a retórica da guerra ao tráfico. Em suas declarações, o governador se imitou a líderes internacionais, comparando a situação do Rio a um “narcoterrorismo” e prometendo enfrentar “de frente” os “vagabundos” que atuam no crime. Contudo, a viabilidade de tal abordagem é questionada, especialmente considerando a crescente pressão por soluções mais eficazes e humanas na segurança pública.
O evento trágico e suas consequências revelam um ciclo vicioso de violência que não dá sinais de melhora. Somente os próximos desdobramentos dessa situação irão nos dizer se as promessas de Castro terão repercussões efetivas ou se, como tantas vezes aconteceu, os cariocas continuarão a viver sob a sombra do medo.



