Seis meses após o início da guerra comercial de Donald Trump, as exportações chinesas demonstram uma surpreendente resiliência. Apesar das tarifas de 55% impostas pelos EUA, cerca de US$ 1 bilhão em mercadorias cruzam diariamente o Pacífico da China para os Estados Unidos. Em setembro, o volume de exportação aumentou em relação a agosto, mostrando que setores como terras-raras e eletrônicos continuam sendo de grande importância para Pequim.
Tarifas de Trump: impacto limitado em alguns setores
Apesar da redução de mais de 50% no valor total do comércio entre os dois países nos últimos seis meses, certos produtos têm apresentado crescimento nas exportações chinesas, desafiando a eficácia das tarifas americanas. Segundo análise da Bloomberg, a posição forte da China nas cadeias globais de suprimentos confere-lhe poder de barganha, dificultando a substituição de seus produtos por outros fornecedores em curto prazo. “Realinhar a produção levará tempo”, alertam os economistas Chang Shu e David Qu.
Impactos na relação comercial e perspectivas futuras
Conforme os representantes chineses se preparam para negociações visando estender a trégua tarifária de 90 dias, Xi Jinping ganha mais poder de negociação. Durante o terceiro trimestre, mais de US$ 100 bilhões em produtos chineses chegaram aos EUA, ajudando Pequim a manter o crescimento econômico e elevando o superávit bilateral para US$ 67 bilhões. Trump, por sua vez, prevê um possível acordo durante encontro na Coreia do Sul, mas deixou claro que a China poderia ser tarifada em até 155% a partir de novembro, caso as negociações fracassem.
Produtos específicos e rotas alternativas
Embora a maioria das principais exportações tenha caído, alguns itens, como cigarros eletrônicos e bicicletas elétricas, registraram aumento na demanda nos EUA. As exportações de cátodos de cobre refinado e cabos elétricos também cresceram significativamente. Para tentar driblar as tarifas, importadores americanos recorrem ao reenvio via México ou Vietnã, onde podem pagar tarifas menores, uma prática facilitada pela falta de fiscalização eficaz na aduana americana.
Mesmo com os obstáculos, as exportações de smartphones, laptops e componentes de informática continuaram, embora em menor volume. Plataformas de comércio eletrônico, como Shein e Temu, continuam a enviar bilhões de dólares em pequenos pacotes, mesmo após o fim da regra de isenção de impostos para encomendas pequenas.
O futuro do comércio entre China e EUA
Especialistas indicam que a dependência mútua entre as duas maiores economias do mundo ainda é significativa, embora os sinais de desacoplamento estejam mais evidentes. O Fundo Monetário Internacional analisou que o “desacoplamento do comércio bilateral parece estar acontecendo mais cedo do que o esperado” e que a redução do comércio, embora rápida, leva tempo para se consolidar. As tensões comerciais e as ações dos EUA, sob o comando de Trump, parecem acelerar a mudança, mas uma substituição completa da China como principal fornecedora ainda não é viável a curto prazo.
Com o cenário atual, as negociações entre Pequim e Washington permanecem delicadas, e o impacto das tarifas continua sendo limitado por rotas alternativas e pela forte presença da China no mercado global. A aproximação de uma nova fase nas relações comerciais depende de negociações que podem determinar o futuro do comércio bilateral nos próximos meses.
Fonte: O Globo