No final do ano passado, um episódio marcado por forte constrangimento e questões de dignidade humana ganhou notoriedade nas redes sociais e no cenário jurídico do Brasil. A Justiça do Rio de Janeiro decidiu, em uma ação civil, condenar o Supermercado Guanabara a pagar R$ 100 mil em indenização por danos morais a um mototaxista, Alex Silva Pereira, que foi acusado de roubo e obrigado a se despir em público dentro da loja. O caso, que aconteceu no dia 31 de dezembro de 2022, na Penha, Zona Norte do Rio, levantou questões sobre o respeito ao consumidor e a ética no atendimento ao público.
A acusação de furto e as humilhações enfrentadas
De acordo com os relatos, Alex estava em um dos supermercados da rede quando foi abordado por seguranças que, segundo o próprio mototaxista, agiram com truculência. “Chegaram segurando na minha capa de chuva, levantando e falando: ‘Tira pra fora o que você roubou lá dentro, rapaz, o que tá debaixo da sua roupa aí? Vambora, a câmera já mostrou tudo!’”, contou Alex, que afirma que as imagens que registram o incidente não mostram a abordagem violenta que ele sofreu.
Para provar sua inocência, o mototaxista se viu obrigado a abaixar as calças, em uma situação degradante e constrangedora, na frente de outros clientes. A juíza Amália Regina Pinto, da 1ª Vara Cível Regional da Leopoldina, salientou que a abordagem foi desproporcional e expôs Alex a uma violação clara de sua dignidade. “O autor foi, de fato, submetido a uma situação constrangedora, sendo instado a se despir em público, o que configura violação à sua dignidade e aos direitos da personalidade”, declarou a juíza na decisão.
Consequências para o supermercado
Além da indenização, os seguranças envolvidos na abordagem foram demitidos, reflexo da política de responsabilidade da empresa diante de atos que ferem os direitos dos consumidores. A empresa, em sua defesa, argumentou que a abordagem tinha fundamento e foi motivada por denúncias de terceiros, no entanto, não apresentou provas consistentes que sustentassem essa alegação.
O caso levantou um importante debate nas redes sociais sobre racismo e discriminação. Alex é negro e muitos internautas ressaltaram que a abordagem agressiva pode estar ligada a questões raciais, evidenciando um padrão de comportamento discriminatório por parte de algumas instituições de segurança. “A condenação é um passo importante para garantir que situações como essa não se repitam”, afirmou um advogado em uma análise sobre o caso.
A percepção pública e o impacto do caso
A repercussão do ocorrido e da sentença gerou discussões sobre o papel das empresas e dos seguranças no tratamento dos clientes. As redes sociais, como esperado, foram um espaço fervoroso de debates, onde usuários compartilharam experiências semelhantes e criticaram a falta de treinamento e sensibilidade por parte de profissionais de segurança em supermercados e outros estabelecimentos.
Além disso, o comentário público é direcionado para a importância de garantir que todos os consumidores sejam tratados com dignidade e respeito, independentemente de raça, classe social ou qualquer outra característica. Os cidadãos, especialmente em tempos de crescente insatisfação social, querem ver que as instituições estão sendo responsabilizadas por ações que violam os direitos humanos básicos.
O caso de Alex Silva, portanto, transcende a simples questão da indenização. Ele atua como um catalisador de conversas necessárias sobre dignidade, respeito e as interações entre segurança privada e consumidores — algo que deve ser urgentemente reavaliado no Brasil.
Enquanto o supermercado Guanabara aguarda para ver se a decisão será contestada, a sentença já faz parte de um debate maior sobre direitos e respeito ao próximo no espaço público. O caso ecoa como um alerta sobre o que não deve ser tolerado em um país que ainda luta contra décadas de desigualdade e preconceito.
Para mais informações sobre o caso e atualizações, o g1 segue em contato com o Supermercado Guanabara e aguarda um posicionamento oficial da empresa.


