Com a morte de Raila Odinga em 15 de outubro de 2025, o Quênia perdeu uma figura central na sua política recente. Odinga, uma liderança símbolo da luta pela democracia e pela reforma constitucional, foi fundamental na mudança do sistema presidencialista do país e na manutenção de uma base de apoio diversificada, que agora se encontra em uma fase de crise e reconfiguração.
O papel de Odinga na história e na política atual do Quênia
O ex-primeiro-ministro e líder do Movimento Democrático Orange (ODM) era conhecido por sua habilidade em unir diferentes blocos eleitorais e mobilizar protestos que frequentemente resultavam em concessões do governo. Sua capacidade de manter a lealdade de uma das maiores e mais diversas bases eleitorais do país garantiu sua influência por décadas, além de sua liderança na construção de uma nova constituição mais restrita ao poder presidencial.
Recentemente, Odinga fortalecia uma coalizão com o atual presidente, William Ruto, o que ajudou a evitar uma crise política de grandes proporções e garantiu certa estabilidade. Frente a seu falecimento, no entanto, Ruto se encontra em uma posição mais vulnerável, uma vez que dependia do controle do ODM e do apoio de Odinga para conduzir suas propostas legislativas e sua busca pela reeleição em 2027.
Consequências da ausência de uma liderança consolidada no ODM
Após o falecimento de Odinga, o ODM enfrenta uma crise interna sem um líder claro para unificar o partido e elaborar uma estratégia para as próximas eleições. No dia seguinte à sua morte, o partido designou como líder interino o irmão mais velho de Odinga, de 82 anos, mas a ausência de uma figura carismática e unificadora ameaça dividir ainda mais o espectro político.
Além disso, há uma crescente disputa entre os membros mais jovens do ODM, especialmente os ativistas que lideraram protestos recentes da geração Z contra o governo de Ruto. Essas lideranças jovens veem na aliança de Odinga com Ruto um ato de traição, aprofundando o racha interno e tornando mais incerta a definição do futuro do partido.
Perspectivas para as eleições de 2027
O futuro político do Quênia está agora marcado por uma crise de liderança e uma fragmentação potencial dos apoiadores de Odinga. Os concorrentes presidenciais já sabem que conquistar o voto dessa base será decisivo na eleição de 2027, e a ausência de um líder forte no ODM pode abrir espaço para maior dispersão de votos entre diferentes candidatos.
Ruto, por sua vez, buscava o endosso de Odinga para assegurar sua reeleição, mas a morte do líder da oposição quebra essa estratégia. No momento, a prioridade de Ruto será conter os riscos de violência e manter a estabilidade através de negociações internas, embora a situação continue tensa, especialmente nas regiões de forte base de Odinga.
Uma crise de longo prazo com riscos de instabilidade
Apesar de a curto prazo a possibilidade de uma grande turbulência ser menor, o cenário de médio e longo prazo se torna mais incerto. A luta pela influência de Odinga pode gerar uma fragmentação de sua base de apoio e acirrar disputas internas, o que aumenta o risco de confrontos políticos e sociais mais profundos no país.
Especialistas alertam que a ausência de uma liderança coalizora como a de Odinga representa um golpe difícil de superar na política queniana, deixando o futuro do país em uma fase de maior vulnerabilidade política e institucional.
A situação exige atenção de analistas e observadores internacionais, já que o Quênia é uma peça fundamental na estabilidade da África Oriental e suas eleições costumam influenciar toda a região.