Brasil, 22 de outubro de 2025
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Guerra tarifária entre EUA e China impulsiona busca pela soja brasileira

Escalada de tarifas entre Estados Unidos e China aumenta interesse da China na soja do Brasil e revela dependência crescente do país sul-americano

O Brasil atingiu recordes em suas exportações para a China nos últimos anos, impulsionado pela disputa tarifária entre os dois maiores mercados globais. Entre 2013 e 2023, o país enviou US$ 838,8 bilhões ao parceiro asiático, com mais de 60% desse valor referente a soja e minérios. No entanto, essa dependência cada vez maior traz preocupações sobre os impactos na indústria nacional, que continua se preocupando com a baixa diversificação e a desindustrialização.

Desafios de uma dependência crescente da China

Segundo Ana Elisa Saggioro Garcia, professora de Relações Internacionais da PUC-Rio, a relação entre Brasil e China se fortalecceu desde 2004, mas intensificou-se após 2009, com o Brasil desmantelando etapas de processamento industrial de commodities, ao passo que a China investia em beneficiamento nos seus próprios portos. Essa estratégia reforçou o perfil exportador brasileiro centrado em produtos primários, elevando riscos de vulnerabilidade econômica.

Hoje, a China responde por quase um terço das exportações brasileiras e tem sido a principal responsável pelo superávit comercial do Brasil. Entretanto, essa concentração de vendas em produtos pouco processados reforça a baixa complexidade da pauta exportadora brasileira, além de limitar a competitividade da indústria de transformação nacional.

Impacto na estrutura produtiva brasileira

Dados do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) indicam que, em 2023, 90,7% do que o Brasil exporta para a China consiste em produtos básicos, enquanto apenas 5% dessas exportações representam bens de maior valor agregado. Ainda assim, o país mantém uma pauta concentrada em commodities, como soja, minério de ferro e petróleo, com pouca transformação industrial.

Especialistas alertam que essa postura refletiu-se no declínio da complexidade econômica do Brasil, que passou da 23ª posição, em 1998, para a 49ª em 2023, no ranking mundial de complexidade econômica. Além disso, mudanças legislativas, como a Lei Kandir, facilitaram a exportação de matérias-primas, porém contribuíram para a desindustrialização do país.

Oportunidades e limitações na relação com a China

Apesar do forte foco em commodities, analistas reconhecem que há espaço para ampliar a industrialização e a cooperação tecnológica com a China, principalmente em energia solar, eólica e indústria química. O plano Nova Indústria Brasil, lançado em 2024, prevê investimentos de R$ 300 bilhões até 2026, voltados para revalorizar a indústria nacional.

Recentemente, empresas chinesas de veículos elétricos abriram fábricas no Brasil, apontando uma oportunidade de cooperação que ainda pode ser aprofundada por meio de investimentos conjuntos em pesquisa e desenvolvimento. Segundo Garcia, estimular essa parceria pode diversificar ainda mais as exportações brasileiras e fortalecer setores estratégicos.

Riscos de uma dependência excessiva

Especialistas também alertam para os perigos de uma dependência excessiva da China. A concentração de 30% das exportações brasileiras em um único parceiro aumenta vulnerabilidades perante crises externas, mudanças de política comercial ou influências estratégicas, como o uso do “sharp power” chinês, que busca expandir sua influência global.

Por outro lado, diplomatas destacam que o Brasil mantém uma política de independência, rejeitando programas como o Cinturão e Rota, e reforçam que a relação comércio com a China não representa necessariamente alinhamento político. A parceria, segundo eles, deve continuar sólida, mesmo com eventuais oscilações políticas ou econômicas.

Perspectivas e desafios futuros

Com tarifas americanas sobre produtos brasileiros desde agosto de 2025, a China declarou disposição para ampliar suas compras de soja brasileira, especialmente se os EUA removerem suas tarifas. Entretanto, especialistas avaliam que a mudança de perfil nas exportações brasileiras será limitada, pois produtos industriais enfrentam dificuldades competitivas na China devido ao tamanho e escala do mercado do país asiático.

Para Ana Garcia, o Brasil precisa aproveitar melhor suas oportunidades para avançar na cadeia de valor, investindo em inovação, tecnologia e novas parcerias estratégicas. Embora o relacionamento com a China continue forte, há a necessidade de diversificar a pauta exportadora e promover maior industrialização para reduzir vulnerabilidades e construir uma economia mais resistente.

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