Monumentos grandiosos, conspiração de bilionários e a busca pelo poder ocidental
Na clandestinidade do sonho de construir algo imponente, bilionários norte-americanos investem milhões de dólares em monumentos gigantescos, buscando reafirmar valores ocidentais e marcar sua presença na história. Entre eles, destaca-se a ideia de erigir uma estátua de 137 metros do deus grego Prometeu na Ilha de Alcatraz, uma iniciativa que envolve interesses políticos e culturais.
O projeto de Prometeu na Ilha de Alcatraz
Calvin, um empresário de Denver que administra uma companhia de mineração de Bitcoin, planeja construir a estátua de Prometeu, símbolo de inovação tecnológica e resistência, com uma estrutura de liga de níquel e bronze que refletirá a luz ao longo do dia. Com 137 metros de altura, a obra custaria cerca de US$ 450 milhões e, segundo o próprio Calvin, ficaria visível de praticamente toda a Baía de São Francisco.
Para viabilizar o projeto, Calvin precisa que o presidente Donald Trump reclassifique Alcatraz, que hoje é parque nacional, como monumento nacional. A proposta inclui ainda um museu de tecnologia na mesma ilha. Calvin acredita que Trump, conhecido por sua fixação estética, apoiará a iniciativa, uma vez que enviou uma carta ao ex-presidente, propondo a renovação e embelezamento da América.
Monumentos como símbolos de patriotismo e poder
Calvin enxerga Prometeu como uma representação do “dinamismo fundamental que define o Ocidente”, justificando a grandiosidade do monumento como uma afirmação dos valores de patriotismo, força e transcendência. Essa visão não é isolada; outros bilionários e políticos defendem a construção de grandes estruturas como forma de perpetuar a história e o poder ocidental.
Por exemplo, o ex-presidente Donald Trump destinou US$ 40 milhões para o projeto de um Jardim Nacional dos Heróis Americanos, com esculturas de figuras como George Washington, Elvis Presley e Billy Graham, em estilo neoclássico. Segundo especialistas, essa estética remete às origens do império romano e grego, representando um ideal de masculinidade e triunfo.
O fortalecimento da estética clássica no século XXI
O interesse por monumentos clássicos é uma marcada tendência do conservadorismo contemporâneo, que busca resgatar o estilo neoclássico para reforçar uma narrativa de poder e imortalidade dos valores ocidentais. O arquiteto Richard Cameron, apoiado por figuras como Calvin, já discutiu a construção de estruturas que se afastam do estilo futurista, preferindo o formal e imponente do classical style.
Além do Brasil, a influência dessa estética tem ganhado espaço entre os apoiadores de um modelo de poder autoritário, que associa força e estabilidade a monumentos grandiosos. A professora Erika Doss, especialista em memória pública, afirma que essa preferência é uma estratégia de reforço ao “excepcionalismo americano” e às sociedades que buscam celebrar suas vitórias e seu progresso.
Os apoiadores e as motivações por trás dos monumentos gigantes
Entre os principais apoiadores estão investidoras do Vale do Silício como Joe Lonsdale e Elad Gil, que defendem a construção de monumentos gigantescos como símbolos de esperança, progresso ou pureza estética. Gil, por exemplo, deseja criar uma ode ao futuro, inspirando-se em templos antigos e na Grande Pirâmide de Gizé, para celebrar as “verdades humanas universais”.
O movimento, contudo, não se limita aos apoiadores liberais ou de direita – há também a tentativa de restaurar memórias de poder em estruturas clássicas, muitas vezes associadas a exaltações de figuras controversas ou a projetos de nostalgia autoritária. A questão, aponta Doss, é que a construção de monumentos é uma forma de resistir à perda de controle e ao desenvolvimento de narrativas críticas.
Narrativas de poder, tecnologia e tradição
Muitos monumentos recentes nos EUA, como o Memorial às Vítimas de Linchamento em Montgomery, representam uma abordagem mais reflexiva sobre a história, em contraste com as estátuas triunfantes de épocas passadas. Ainda assim, o desejo de impor uma narrativa de força e supremacia continua presente na construção de obras monumentais.
Landmarks como o projeto de Prometeu ou o Jardim dos Heróis Americanos refletem uma busca por grandiosidade e afirmação, muitas vezes conectadas a interesses políticos de figuras influentes, como Donald Trump, que também planeja arco triunfal e outros símbolos clássicos na capital americana.
Contribuições culturais e controvérsias
Segundo especialistas, a preferência por estilos clássicos revela uma ligação ao passado imperial de Roma e Grécia, onde o monumento era uma afirmação de poder, masculinidade e conquista. Como observa a historiadora Erika Doss, essa associação é uma herança de manual fascista, que privilegia a estética do triunfo e a imposição social.
Por outro lado, há uma crítica à tentativa de eternizar memórias de poder por meios que muitas vezes reforçam desigualdades e autoritarismos, além de provocar disputas públicas e debates sobre o significado da história na memória social.
Perspectivas futuras
O fenômeno dos monumentos gigantes vai além dos Estados Unidos. No Brasil, por exemplo, há discussões sobre a preservação ou retirada de monumentos considerados controversos, refletindo o mesmo dilema de memória e poder observados na América do Norte.
Enquanto isso, os projetos de Calvin, Gil, Lonsdale e outros indicam uma tendência de que, no futuro, o legado da grandiosidade e do classicismo continuará a ser usado como ferramenta de afirmação cultural e política, com monumentos de várias escalas e significados.
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