Nesta terça-feira (22), o Grupo Ambipar protocolou um pedido de recuperação judicial no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, ampliando a atenção do mercado financeiro sobre sua crise. A companhia, criada há 30 anos, atua em áreas como projetos de descarbonização, economia circular e resposta a emergências ambientais, mas enfrenta dificuldades financeiras que culminaram na soma de dívidas superior a R$ 10 bilhões.
O que é a Ambipar e sua atuação no mercado ambiental
Sediada em Nova Odessa, interior de São Paulo, a Ambipar é uma empresa brasileira de gestão ambiental presente em mais de 40 países. Ela opera com duas frentes principais: a Ambipar Environment, que oferece soluções ecológicas para redução do uso de recursos e gerenciamento de resíduos, e a Ambipar Response, especializada em prevenir, gerenciar e responder a emergências ambientais, incluindo ações no setor de óleo e gás com mais de 640 bases em 41 países. Seus clientes incluem Petrobras, Vale, Klabin e Natura.
Crise financeira e busca por recuperação
Apesar de seu crescimento impulsionado por metas de sustentabilidade e inovação, a empresa registrou uma perda significativa de 96,8% no valor de suas ações no mercado neste ano. Os papéis, negociados atualmente a aproximadamente R$ 0,41, refletem um cenário complicado, com especulações de ataque orquestrado por investidores que lucram com a queda do ativo.
A situação agravou-se após a solicitação de recuperação judicial, que soma dívidas de R$ 10,48 bilhões, incluindo um empréstimo de US$ 35 milhões contratado em setembro, cujo pagamento estaria ameaçado por cobranças de garantias adicionais pelo Deutsche Bank. A companhia afirma que essa cobrança teria causado prejuízos de R$ 165 milhões e estaria relacionada a contratos de derivativos que passaram a atuar de maneira especulativa, segundo a própria Ambipar.
Controvérsias e irregularidades na gestão
O caso envolve também uma investigação criminal levantada pela empresa contra João Arruda, ex-diretor financeiro, suspeito de irregularidades nas negociações dos contratos com o Deutsche Bank. A Ambipar afirma que Arruda teria assinado contratos com o Bank of America antes de migrá-los para o banco alemão, sem passar pelo conselho de administração. Além disso, o executivo teria renunciado ao cargo em 19 de setembro, o que, segundo a empresa, contribuiu para o pânico no mercado.
Questões jurídicas e internas
Além do pedido de recuperação, a Ambipar questiona na Justiça o foro competente do processo. De acordo com o Ministério Público do Rio de Janeiro, o processo foi iniciado na capital fluminense, apesar da sede da empresa estar em Nova Odessa, onde os registros mostram um faturamento quase oito vezes maior do que na cidade do Rio de Janeiro. A empresa também tenta evitar a exclusão de sua participação em licitações públicas e privadas, garantindo que suas operações continuam normalmente e que não haverá demissões.
Impacto e respostas do mercado
O impacto imediato da crise refletiu-se na Bolsa de Valores, onde as ações da Ambipar despencaram, acumulando perdas de quase 97% no ano. Recentemente, a companhia contratou consultorias financeiras como a BR Partners e a Alvarez & Marsal para orientações em sua reestruturação, enquanto tenta negociar com credores, incluindo diversos bancos que recorreram ao Judiciário para suspender procedimentos e garantir seus créditos.
Segundo analistas, a situação revela fragilidade no modelo de crescimento baseado em metas de sustentabilidade e na forte exposição às operações financeiras com derivativos. A empresa também enfrenta questionamentos sobre sua governança e transparência na gestão das dívidas e contratos complexos.
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