Brasil, 21 de outubro de 2025
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O crescimento dos eventos sociais para pessoas que vão sozinhas

Com o aumento da procura, mais pessoas estão optando por participar de festivais e festas sozinhas.

Nos últimos anos, especialmente após a pandemia, um fenômeno tem se destacado: a disposição crescente de pessoas em participar de eventos sociais sozinhas. Desde festivais de música até jantares, a experiência de estar acompanhado apenas de si mesmo vem ganhando aceitação e até mesmo popularidade. Um levantamento recente feito pela Ticketmaster revelou que a porcentagem de pessoas que vão a festivais sozinhas subiu de 8% em 2019 para impressionantes 29% em 2023.

A nova era dos festivais: um espaço para quem vai sozinho

Eventos como o Reading e Leeds festival, que agora possuem áreas de camping focadas em participantes solitários, são um exemplo claro dessa mudança. Assim como o Download Festival, que já oferece sua famosa área “lone wolf”. A cultura dos eventos sociais agora conta com diversas páginas em redes sociais e grupos de WhatsApp, como o London Solo Ravers e Untitled Rave Community Project, que conectam pessoas que preferem curtir a festa sozinhas.

A jovem Anaïs Espinosa, de 26 anos, desabafa sobre sua nova escolha. “Se vou a um evento com alguém, acabo fazendo o que a outra pessoa quer. Quando estou sozinha, posso aproveitar do meu jeito, ir ao bar quando quero e ficar bem na frente do DJ. É como se eu fosse um personagem de vídeo game vivendo uma história fascinante”, compartilha Anaïs.

Motivações para a solidão nos eventos

Segundo a Dr. Karenza Moore, especialista em cultura de festas e uso recreativo de drogas na Universidade de Newcastle, um dos principais motivos que levam pessoas a frequentar eventos sozinhas é a busca por uma experiência musical autêntica. Muitas vezes, elas têm dificuldades em encontrar amigos que compartilhem a mesma paixão por gêneros específicos, como o happy hardcore. Além disso, a atual crise do custo de vida também tem dificultado que amigos compartilhem os mesmos interesses e tenham disponíveis os mesmos recursos financeiros para sair.

Imi Jagger, de Manchester, relata sua experiência: “Caso você não conheça ninguém que vá a um evento que você deseja participar, é necessário aceitar a possibilidade de ir sozinho.” Esse sentimento de liberdade e a chance de conhecer novos grupos são fatores que a pesquisa da Ticketmaster destacou como razões para pessoas irem sozinhas a festivais e festas.

Participantes de eventos sociais sozinhos
Participantes frequentemente se conectam com outros por conta de interesses comuns, criando laços inesperados.

Desde o fim da pandemia, eventos como noites para solteiros, encontros offline e grupos de caminhada têm surgido para diminuir o estigma relacionado a ser considerado “solitário”. Outra razão para essa tendência é que muitas pessoas estão se sentindo cansadas das interações online e estão redescobrindo o prazer de viver experiências ao vivo. Moore observa que muitos estão “apreciando fazer coisas na vida real”.

Os benefícios sociais de ir sozinho

A professora Cat Rossi da Universidade de Artes Criativas em Surrey acredita que a crescente popularidade das festas para solteiros resulta da mudança de foco das pessoas, que agora buscam vivenciar experiências em vez de acumular bens materiais. Contudo, nem todos estão interessados apenas em validação através das redes sociais. Moore aponta que muitos frequentadores acabam encontrando um sentimento de pertencimento. “Independente de ir sozinho, normalmente você acaba se conectando com outras pessoas.”

Ben Walton, de 30 anos, conta que começou a sair sozinho aos 23 e que faz isso de duas a três vezes por mês. “É uma oportunidade de conhecer pessoas de diversas origens, indivíduos que talvez nunca mais encontre. Existe uma beleza nessa experiência”, afirma. Essa liberdade de se integrar a grupos desconhecidos é exatamente o que Jagger encontrou em um festival de techno na Holanda, onde se pôs a interagir com amigos que nunca havia conhecido antes.

Pessoas se socializando em festivais
Em festivais, os participantes têm a chance de conhecer pessoas e culturas diferentes.

Essa nova forma de socialização também é facilitada pelo uso de redes sociais, que ajudam a reunir comunidades com interesses em comum, mesmo que estas não estejam fisicamente próximas. Rossi acrescenta que hoje as pessoas vivem em um contexto híbrido, mesclando experiências digitais e presenciais. “As redes têm um papel importante na conexão de indivíduos que compartilham interesses”, ressalta.

Ainda há o aspecto da segurança nos eventos, que têm focado mais em bem-estar e redução de danos. Moore afirma que isso contribui para que esses eventos sejam percebidos como seguros, com pessoas sabendo que podem buscar apoio caso algo aconteça. Espinosa comenta que, para ela, se sentir sozinha em um rave é diferente de um clube, onde a dinâmica muitas vezes envolve uma atmosfera mais voltada para a conquista e o consumo excessivo de álcool. Ao contrário, nos raves, a essência é a música e a dança, o que a faz sentir-se mais segura.

No entanto, Jagger questiona essa aparente segurança, afirmando que casos de assédio e ingestão de substâncias continuam a ser problemáticos. Apesar disso, para muitos, a possibilidade de ir a um evento sozinho pode ser uma experiência de autoafirmação, promovendo uma maior autoestima: “É bastante validante saber que não dependo de outras pessoas e que sou capaz de criar boas experiências por conta própria”, finaliza.

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