A recente campanha publicitária do governo do Piauí, intitulada “Meu Celular de Volta”, provocou uma onda de críticas nas redes sociais ao apresentar um cenário que muitos consideraram racista. O vídeo mostra um homem branco sendo roubado por dois jovens negros, o que levou a questionamentos sobre a mensagem implícita da propaganda e sua abordagem em relação à violência e raça no Brasil.
Polemica em torno do vídeo
O comercial foi inicialmente compartilhado pelo governador Rafael Fonteles (PT) nas redes sociais, mas foi rapidamente excluído após as reações negativas. A Secretaria de Comunicação (Secom) do Piauí defendeu a peça, afirmando que o vídeo “não tem qualquer conotação racista” e ressaltando que os atores envolvidos são influenciadores digitais reconhecidos no estado.
A situação se tornaram ainda mais tensa quando o senador Ciro Nogueira (PP-PI) criticou a propaganda, descrevendo-a como um “desastre” e “totalmente preconceituosa”, sugerindo que o anúncio perpetua a ideia de que a violência é associada à população negra e pobre.
A estrutura da campanha
O vídeo apresenta um jovem distraído ouvindo música, que não percebe quando é roubado por dois rapazes negros. Ao final, eles são detenidos pela polícia e o celular é recuperado. A campanha é inspirada no filme “Ai Que Vida”, dirigido por Cícero Filho, e os atores são reconhecidos na cena humorística piauienses.
Visão da secretaria sobre a crítica
Em resposta às críticas, a Secom declarou que a proposta da campanha era, de forma lúdica e leve, informar sobre os avanços na segurança pública, usando elementos da cultura local. Eles reafirmaram que repudiam toda e qualquer forma de racismo ou discriminação.
Cícero Filho, que também dirigiu o vídeo, comentou que a ideia de criar a peça publicitária surgiu a partir da autorização solicitada aos influenciadores e que teve total liberdade criativa na produção do material. Segundo ele, o objetivo era assegurar a entrega de uma mensagem correta e adequada às práticas culturais piauienses.
Resultados do programa “Meu Celular de Volta”
O programa, que visa a recuperação de celulares roubados, menciona resultados positivos. Nos últimos três anos, houve uma redução de 51% nos casos de roubo de celulares no estado. Em números, os registros de roubos caíram de 10.532 em 2022 para 5.285 em 2025, com mais de 13 mil celulares recuperados até o momento.
A dinâmica do programa “Meu Celular de Volta” envolve um sistema que faz o cruzamento de dados do boletim de ocorrência com informações das operadoras de telefonia, facilitando o rastreamento dos dispositivos. Essa tecnologia foi promovida como um avanço positivo na área de segurança pública no estado, apesar da controvérsia gerada pela campanha publicitária associada.
Reflexão sobre a comunicação governamental
O episódio evidencia a importância de se ter cuidado ao produzir campanhas publicitárias que tratem de temas delicados, como racismo e violência. A comunicação pública deve sempre buscar inclusividade e sensibilidade, para que mensagens promovam não apenas políticas de segurança, mas também o respeito à diversidade cultural e étnica da população.
A polêmica gerada pela peça do governo do Piauí serve como um alerta para a necessidade de um diálogo mais amplo sobre representatividade e a imagem de diferentes grupos na mídia, especialmente em iniciativas que repercutem na esfera pública.
O que ficou claro é que a sociedade exige não apenas a recuperação de bens, mas também um compromisso genuíno com a desconstrução de estereótipos raciais e qualquer esforço que contribua para práticas de inclusão e equidade, especialmente em um cenário desafiador como o da segurança pública brasileira.