Na última terça-feira, o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados realizou o segundo sorteio das relatorias para os processos envolvendo deputados bolsonaristas que participaram do motim em agosto, quando a Casa foi paralisada. Os deputados Josenildo (PDT-AP) e Moses Rodrigues (União-CE) foram os escolhidos, e o presidente do colegiado, deputado Fábio Schiochet (União-SE), anunciará um deles como responsável pelos casos até esta sexta-feira. Esse sorteio ocorre em meio a um clima de tensão política e descontentamento entre os deputados em relação a essas relatorias.
Motim bolsonarista e os desdobramentos
A recente prisão de Jair Bolsonaro (PL) gerou uma onda de protestos entre seus aliados, que ocuparam a Mesa Diretora da Câmara, interrompendo uma sessão do plenário. Três parlamentares estão sendo processados por esse ato: Marcos Pollon (PL-MS), Marcel Van Hattem (Novo-RS) e Zé Trovão (PL-SC). O primeiro sorteio não teve continuidade, pois os deputados Zé Haroldo Cathedral (PSD-RR) e Castro Neto (PSD-PI) recusaram-se a integrar a lista de relatores, o que atrasou a tramitação dos processos.
A desistência de integrantes da lista é vista como um sinal de desconforto em assumir relatorias que podem resultar em punições a parlamentares da ala bolsonarista. As representações em questão abordam a conduta dos deputados que invadiram o plenário e interromperam uma sessão para protestar contra decisões do Supremo Tribunal Federal (STF).
Quebra de decoro e acusações no Conselho de Ética
A invasão, transmitida ao vivo, levou a Mesa Diretora a acionar o Conselho de Ética, justificando que houve quebra de decoro e afronta ao regimento interno. Apesar das acusações, os envolvidos negam qualquer irregularidade, afirmando que suas ações estavam dentro dos limites da atuação parlamentar.
Na mesma sessão, o Conselho também ouviu o deputado Pastor Sargento Isidorio (Avante-BA) e a deputada Duda Salabert (PDT-MG) como testemunhas em um processo contra o deputado André Janones (Avante-MG). Janones é acusado de quebra de decoro em razão de publicações ofensivas nas redes sociais, além de um incidente ocorrido em 9 de julho, quando se desentendeu com o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) durante discurso na tribuna.
Momentos conturbados no plenário
O tumulto iniciou quando Nikolas Ferreira leu uma carta do então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciando tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. As provocações entre os parlamentares geraram uma série de desordens no plenário, que precisou da intervenção do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), várias vezes para restabelecer a ordem. O episódio culminou com um pedido de auxílio à Polícia Legislativa.
A continuidade dos eventos no Conselho de Ética revela um panorama de crescente tensão política no Brasil, onde os limites da atuação parlamentar estão sob intenso escrutínio, especialmente em um momento em que a polarização ideológica se acentua. O desenrolar desses processos pode impactar não apenas os envolvidos, mas a dinâmica política no país como um todo, à medida que as discussões em torno da ética e da responsabilidade parlamentar ganham espaço nas pautas do dia. A expectativa agora recai sobre a escolha do relator e os próximos passos do Conselho.
Com a política brasileira diante de graves crises e embates entre parlamentares, o papel do Conselho de Ética se torna ainda mais crucial, exigindo não apenas uma análise técnica, mas também sensibilidade política para lidar com as repercussões de suas decisões. Resta aguardar os desdobramentos desta questão que promete continuar a agitar os ânimos na Câmara.