Uma campanha publicitária controversa no sistema de metrô de Nova York, promovendo o colar inteligente “Friend” que promete ser um acompanhante virtual, tem causado reações negativas e atos de vandalismo. As mensagens mostradas nas propagandas descrevem o dispositivo como “alguém que escuta, responde e apoia”.
Problemas e reações ao lançamento do ‘Friend’
O dispositivo, lançado em 2024 e vendido por US$ 129, foi criado para ouvir conversas, processar informações e enviar respostas ao telefone do usuário via aplicativo conectado. Apesar de permitir respostas imediatas ao pressionar um botão, o aparelho também envia mensagens sem comando explícito, funcionando continuamente devido à ausência de uma opção de desligamento do microfone.
Até o momento, a empresa por trás do “Friend”, Friend.com, não respondeu a questionamentos sobre o sucesso da campanha de publicidade no metrô ou o número de usuários do dispositivo. No entanto, Sister Nancy Usselmann, Diretora da Pauline Media Studies, ligada às Irmãs Paulinas, afirmou à CNA que “as pessoas recorrem à inteligência artificial por causa da dificuldade de manter relações humanas, que muitas vezes são complicadas”.
Ela acrescentou que “sem essa complexidade, não podemos evoluir ou nos tornar melhores, permanecendo estagnados ou egoístas, o que leva a uma existência infeliz”.
Criando ‘Friend’ para combater solidão – reflexões
O jovem Avi Schiffmann, fundados da Friend.com e ex-estudante de Harvard, criou uma plataforma com diversos projetos, incluindo um site de monitoramento da COVID-19 e outro conectando refugiados ucranianos a residentes ao redor do mundo. Schiffmann lançou a companhia que produz o “Friend” após um vídeo promocional divulgado em julho de 2024, mostrando pessoas interagindo com seus gadgets em situações cotidianas.
No vídeo, uma mulher faz trilha ao lado de seu pendente, e um homem recebe mensagens de seu “amigo” enquanto joga videogame, sugerindo que o dispositivo oferece um conforto para quem se sente só. Contudo, a publicidade suscita desconforto, já que muitos espectadores a classificaram como distópica ou até assustadora, relatando que o vídeo remete a um cenário de filme de terror.
Father Michael Baggot, especialista em bioética e estudioso de chatbots, criticou a campanha, afirmando que “ela explora a vulnerabilidade emocional para lucro, agravando a epidemia de solidão ao isolar os indivíduos das relações reais”. Ele destacou ainda que “amizade verdadeira envolve apoio mútuo e afeto, algo que uma máquina não pode oferecer”.
Críticas e riscos do marketing de dispositivos ‘Friend’
As reações nas redes sociais também foram contundentes, com publicação do fundador nas plataformas digitais recebendo cerca de 25 milhões de visualizações e inúmeros comentários criticando a ostentação de uma tecnologia que poderia substituir vínculos humanos autênticos.
Vândalos rasgaram e marcaram anúncios na cidade, exprimindo preocupação com a vigilância e o uso de chatbots como substitutos de relacionamentos humanos próximos. Uma mensagem comum era: “Pare de lucrar com a solidão”.
Usselmann alertou que “a palavra ‘amigo’ carrega um significado de vínculo baseado em amor e apoio mútuo, que uma máquina não é capaz de proporcionar, pois não possui alma ou capacidade de amar verdadeiramente”. Ela reforçou que “a amizade autêntica envolve sacrifício e encorajamento espiritual, algo que IA não consegue replicar”.
Implicações éticas e espirituais
A campanha e o produto representam um dilema ético, pois podem intensificar o isolamento ou dar uma falsa sensação de companhia. Como apontou Usselmann, “a tecnologia deve servir para aproximar as pessoas, não substituí-las”. Ela concluiu que “o contato genuíno e a atenção podem oferecer ao solitário um sentimento de valor e pertencimento”.
Schiffmann, por sua vez, usou as redes sociais para divulgar o lançamento, que rapidamente viralizou, dividindo opiniões. Além do impacto psicológico, há preocupações sobre a vigilância contínua e a manipulação emocional por parte de empresas que promovem esses dispositivos.
Especialistas reforçam a necessidade de distinguir entre amizade real, baseada na troca espiritual e afetiva, e as possibilidades limitadas oferecidas por uma inteligência artificial, que carece de alma e moralidade.
Para mais informações sobre os debates éticos e sociais envolvendo IA e amizades virtuais, consulte esta reportagem.