Ao menos duas autoridades religiosas da Sicília acusaram a crescente onda de violência inspirada na máfia após a morte de um jovem de 21 anos, ocorrida na cidade de Monreale, na Itália. A morte de Paolo Taormina, ocorrida na última semana, levantou alertas sobre o aumento de crimes de estilo mafioso relacionados à juventude na região.
Premonitórios alertas e chamados à resistência
No dia 18 de outubro, durante uma missa de orações por Taormina, o arcebispo Gualtiero Isacchi de Monreale afirmou que a presença dos fiéis representa “uma postura de resistência e desejo de mudança”.
Segundo ele, “a lógica violenta, típica da máfia, que alguns envergonhadamente exaltam nas redes sociais, visa apagar a consciência e a dignidade humanas, extinguir a esperança e condenar à resignação de que ‘nada vai mudar’”.
O arcebispo Corrado Lorefice de Palermo também participou do evento realizado na Igreja de São Philip Neri, no mesmo bairro onde ocorreu o homicídio, no bairro Zen, reforçando a necessidade de proteger os jovens da influência das organizações criminosas.
Memória e desafios na luta contra o crime organizado
Lorefice fez referência ao padre Pino Puglisi, assassinado pela máfia em 1998, e exortou a comunidade a assumir o compromisso de defender os jovens contra as ações das organizações criminosas.
“Precisamos gritar aos jovens que as organizações criminosas não desejam sua felicidade e lembrar que o centro de qualquer cidade é onde a pessoa está”, destacou o arcebispo.
Recente aumento de violência entre jovens na região
Taormina foi a vítima mais recente de uma série de atos de violência na área, incluindo um massacre em abril, quando três jovens — entre eles um de 19 anos — foram mortos após uma troca de tiros com uma gangue, em um episódio que ficou conhecido como “O Massacre de Monreale”.
O suspeito de ter assassinado Taormina, Gaetano Maranzano, de 28 anos, é filho de um conhecido traficante da região e foi detido com armas após ser preso em sua residência.
Compromisso religioso e esperança de transformação
Durante o serviço, Isacchi alertou que alguns podem considerar suas orações como “não tendo efeito” ou “suficiente”, mas reforçou que a fé deve nos impulsionar a agir. “Deus está ao lado de nossos jovens, incluindo aqueles que têm vidas destruídas pela violência”, declarou.
Giovanni Giannalia, pároco de São Philip Neri, afirmou que, apesar das dificuldades, há muitas pessoas dispostas a fazer o bem na área. “A violência juvenil preocupa: três mortes em Monreale, uma em Palermo. A situação está fora de controle, e todos, especialmente os sacerdotes, devem combater essa onda de violência”, ressaltou.
Crise social, influência da máfia e esperança de mudanças
Relatórios recentes, como o do “Global Initiative Against Transnational Organized Crime”, mostram que cerca de 40 de 181 presos ligados à máfia têm menos de 35 anos, desses, 10 têm menos de 25 anos, evidenciando o recrutamento de jovens pelas organizações criminosas.
Após a morte de Taormina, os bispos Isacchi e Lorefice emitiram uma declaração conjunta, expressando esperança de que o episódio represente uma virada na luta contra a violência juvenil na Sicília.
“Reativamos nossa esperança. Acreditamos que a mudança é possível”, afirmaram os bispos. “Que a vida de Paolo seja um sinal de transformação, uma semente de renovação em nossas cidades.”
As líderes religiosas finalizaram pedindo a intercessão de Nossa Senhora das Dores para que ela ensine o caminho da paz, do amor aos jovens vulneráveis e da não violência, propondo uma renovação do compromisso social e espiritual contra o avanço das organizações mafiosas.