Depois de dois séculos desaparecidas do céu carioca, as araras-canindés estão prestes a retornar à natureza. Resgatadas de cativeiros ilegais, onde muitas sofreram maus-tratos, as aves agora passam por um processo de readaptação no Parque Nacional da Tijuca, na Zona Norte do Rio. Esse trabalho faz parte do Refauna, um projeto destinado à reintrodução de espécies nativas extintas na cidade, visando restaurar o equilíbrio ecológico da floresta.
Processo de reabilitação das araras-canindés
Desde junho, quatro araras-canindés vivem em um viveiro no parque, recebendo cuidados diários e treinamento para o retorno à vida livre. Segundo Lara Renzetti, coordenadora de reintrodução do Refauna, as aves vieram do Parque Ecológico Três Pescadores, em Aparecida (SP), onde já haviam sido reabilitadas. “Aqui a gente continua os treinamentos para manter a musculatura peitoral saudável, pra quando a gente abrir as portas elas conseguirem sair”, explica Lara.
O processo inclui atividades físicas e um preparo alimentar especial para estimular o comportamento natural das aves, essencial para sua adaptação ao ambiente selvagem. Miguel Alvarenga, voluntário do projeto, participa dessa rotina e acompanhando de perto o desenvolvimento das araras. “Dá pra ver bastante como eles mudam o comportamento delas, primeiro com medo da gente, depois se acostumando com os treinamentos. É bem legal ver essa evolução delas com voo, alimentação”, contou.
Importância das araras para a regeneração da floresta
As araras-canindés desempenham um papel fundamental na regeneração da floresta. Conhecidas por ajudar na dispersão de sementes, elas transportam frutos de um ponto para outro, contribuindo para o crescimento de novas árvores. Lara cita como exemplo o caso da macaúba, uma palmeira comum na Mata Atlântica. A arara quebra a casca do fruto para consumir a polpa, mas não consegue comer a semente — que cai no solo e pode germinar em outro local, ajudando a reflorestar novas áreas.
Além das araras, outras espécies também foram reintroduzidas pelo Refauna. Os jabutis, por exemplo, foram a terceira espécie reintroduzida no Parque Nacional da Tijuca e têm um papel importante no controle de plantas invasoras. “No caso dos jabutis, a gente conseguiu observar uma interação interessante com a espécie invasora comigo-ninguém-pode. O jabuti consegue comer as folhas e danifica essa planta, que é considerada uma ameaça dentro do parque”, explicou Lara.
Expectativas para o futuro das araras-canindés
Com a meta de devolver cinquenta araras-canindés à natureza nos próximos seis anos, o projeto Refauna, em parceria com o Parque Nacional da Tijuca, se coloca como uma esperança para a natureza carioca. A primeira soltura das aves está prevista para dezembro e deverá marcar um novo capítulo na história ambiental do Rio de Janeiro.
O retorno das araras-canindés ao céu carioca simboliza não apenas a reintrodução de uma espécie extinta na região, mas também um esforço coletivo de conservação e restauração de habitats naturais, promovendo a saúde ecológica do Parque Nacional da Tijuca. Com a colaboração de especialistas, voluntários e cidadãos conscientes da importância da biodiversidade, o projeto busca garantir que essas aves possam não só sobreviver, mas também prosperar em seu habitat natural.
O retorno das araras-canindés ao céu do Rio, após 200 anos de ausência, é uma história de resgate e esperança, um lembrete de que as ações de preservação podem fazer a diferença e permitir que a natureza recupere seu curso. O trabalho do Refauna não é apenas uma vitória para as araras, mas um passo significativo em direção a um futuro mais sustentável e harmonioso entre a humanidade e a fauna local.