O Brasil possui “vantagens consolidadas” para ampliar a adoção da agricultura regenerativa, sistema de produção agrícola que foca na saúde do solo, segundo produtores e especialistas reunidos no Summit Agricultura Regenerativa, organizado pela Globo Rural em São Paulo nesta semana. O evento contou com a participação de mais de 200 pessoas, incluindo representantes da indústria e autoridades.
Benefícios e desafios da agricultura regenerativa no Brasil
De acordo com os participantes, o modelo apresenta benefícios perenes, como aumento de produtividade e resiliência do solo, porém os resultados não são imediatos. Para facilitar a transição, a migração deve ocorrer de forma gradual e com assistência técnica especializada. Além disso, especialistas apontam que o acesso ao crédito é elemento-chave para impulsionar a adoção das práticas regenerativas.
Experiências concretas de sucesso
Paula Curiacos, gestora da Fazenda Três Meninas Cafés Especiais, em Monte Carmelo (MG), publicou que ela e seu marido iniciaram o processo há nove anos, enfrentando aumento de custos e pragas. Mudanças na propriedade, como a redução do uso de defensivos químicos e o equilíbrio com a biodiversidade do solo, permitiram reduzir custos e alcançar produtividade acima da média na região, com 50 sacas de café por hectare, enquanto a média de sua região é de 31 e a nacional, de 25 sacas por hectare.
Rodrigo Ribeiro Cardoso, diretor da Agrícola Whermann em Cristalina (GO), relatou que limitações em áreas produtivas levaram a uma diversificação de cultivos, incluindo a introdução da braquiária para aumentar a matéria orgânica do solo, o que compensou o manejo de pragas e elevou a produtividade, especialmente na produção de batatas.
Impactos ambientais e econômicos
Segundo estudos, a agricultura regenerativa pode gerar até US$100 bilhões só no Cerrado, levando em consideração a potencialidade de sequestro de carbono e aumento de produtividade. Márcio Milan, vice-presidente de Relações Institucionais da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), destacou que a disseminação dessas práticas também passa pelo consumidor, que deve compreender as diferenças de preços e valor de produtos sustentáveis.
Obstáculos e o caminho para a escala
Apesar dos avanços, desafios como a falta de apoio técnico, de financiamento adequado e de políticas públicas consistentes ainda dificultam a expansão da agricultura regenerativa. Kadigia Faccin, professora da Fundação Dom Cabral, enfatiza que a construção desse modelo exige cooperação e enfrentamento de obstáculos institucionais.
O governo brasileiro tem buscado fortalecer o financiamento verde e firmar acordos internacionais para promover a recuperação de áreas degradadas, oferecendo até R$ 32 bilhões em créditos. No entanto, pequenas propriedades e assentados ainda encontram dificuldades para acessar esses recursos, como apontado por Fabíola Zerbini, da Conexsus.
Perspectivas futuras e potencial de transformação
Para os especialistas, se a agricultura regenerativa ganhar escala, poderá contribuir significativamente para a produção mais sustentável, atender ao crescimento da demanda global por alimentos de maneira eficiente e ajudar o Brasil na mitigação das mudanças climáticas.
Eduardo Cerri, professor da Esalq/USP, afirma que práticas de manejo que aumentam a qualidade do solo tornam as plantas mais resilientes e reduzem custos, além de reforçar a vantagem dos produtores que adotam essa filosofia. Marcello Brito, da Agência Nacional de Agricultura, reforça que é necessário criar incentivos para ampliar essas iniciativas e consolidar uma agricultura de baixo carbono no país.
O evento encerrou com um apelo à união de esforços públicos e privados para promover a agricultura regenerativa como estratégia de transformação sustentável do setor agrícola brasileiro. Para mais informações, consulte a matéria completa no link fonte.