Brasil, 21 de outubro de 2025
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A guerra civil em Mianmar e a incerteza das eleições de dezembro

A crise humanitária em Mianmar se agrava e eleições programadas são ameaçadas pela violência e caos político.

A guerra civil em Mianmar continua a provocar uma grave crise humanitária e política, com a situação se deteriorando diariamente. O país do sudeste asiático, que foi recentemente lembrado pelo Papa durante o Angelus, enfrenta desafios imensos, com o chefe da junta militar admitindo a impossibilidade de realizar as eleições gerais programadas para dezembro em todo o território nacional. Enquanto isso, as milícias de oposição se organizam para compartilhar informações de inteligência e fortalecer sua luta contra a ditadura militar.

A violência em Mianmar não dá trégua

Os combates incessantes entre o exército nacional e as milícias étnicas que lutam contra a opressão militar têm resultado em um grande número de vítimas civis e um agravamento da crise humanitária que já assola a população. Recentes chuvas torrenciais e um terremoto devastador em 28 de março, com uma magnitude de 7,7 que deixou pelo menos 3.700 mortos, exacerbaram ainda mais a situação, empurrando mais de 3,5 milhões de pessoas para a condição de deslocados internos, conforme relatado pelo ACNUR.

No último domingo, 19 de outubro, o Papa Leão XIV fez um apelo por paz em Mianmar durante o Angelus, lamentando as notícias de violência e insegurança. Ele enfatizou a necessidade urgente de um cessar-fogo imediato e efetivo, exhortando todos os envolvidos a trocarem “os instrumentos da guerra pelos da paz” por meio de um diálogo construtivo e inclusivo.

Eleições gerais de dezembro em risco

Com a insegurança crescente, a realização das eleições gerais se torna cada vez mais improvável. Durante uma coletiva, o general Min Aung Hlaing, comandante do exército e chefe da junta militar desde o golpe de 2021, reconheceu que não será possível conduzir as eleições em 100% do território. “É uma situação extremamente grave e, sem a participação da comunidade internacional, será impossível encontrar uma solução real”, declarou Giuseppe Gabusi, analista do programa Indo-Pacífico do World Affairs Institute de Turim.

A própria comissão eleitoral já havia destacado que cerca de 15% dos distritos estavam fora do controle do governo, e o general admitiu que, hoje, as Forças Armadas controlam apenas 20% do território. O restante está em disputa entre o exército e os rebeldes ou sob o controle de diversos grupos locais, sem um governo central claro, o que evidencia a fragilidade da situação política em Mianmar.

Cratera deixa por bombardeamento no estado de Rakhine, em Mianmar.

Cratera deixa por bombardeamento no estado de Rakhine, em Mianmar. (AFP or licensors)

Compartilhamento de inteligência fortalece a oposição

Atualmente, as forças do governo mantêm controle sobre as cidades na parte central do país, enquanto as regiões fronteiriças e montanhosas continuam sendo dominadas por milícias étnicas, que historicamente resistem ao governo central. O Governo de Unidade Nacional (NUG), que representa a oposição em exílio, busca integrar as informações de inteligência das diversas milícias para fortalecer sua posição. Segundo Gabusi, “esse processo é possível se houver vontade política para alcançar resultados”.

A coordenação entre o NUG e os diversos atores políticos e militares tem sido desafiadora, dado que este governo está baseado no exterior e precisa do apoio das forças no território para ganhar credibilidade. “A falta de unidade entre as diferentes facções desenha um quadro complexo e, para que o compartilhamento de inteligência seja eficaz, é necessário estabelecer um plano a longo prazo que construa um Estado unificado que respeite as diversas identidades de Mianmar.”

É necessário um esforço internacional coordenado

Para a desestabilização e a transição para a democracia, a comunidade internacional, incluindo organizações como a ASEAN, tem um papel crucial a desempenhar. No entanto, a divisão entre os países da ASEAN em relação à situação em Mianmar complica os esforços para um cessar-fogo. Alguns países, como Malásia e Indonésia, pressionam por um fim das hostilidades, enquanto outros, como a Tailândia, acreditam que as eleições podem ocorrer sem um cessar-fogo, complicando ainda mais a situação.

A presidência atual da ASEAN, sob a Malásia, tem adotado uma abordagem pragmática, mas sem uma iniciativa internacional sólida e unificada para enfrentar os desafios do país, até mesmo as eleições marcadas para dezembro podem não ter a legitimidade necessária para efetuar uma transição pacífica. O teste final, como apontou Gabusi, é que a verdadeira vítima de toda essa crise é a população civil, que anseia por paz e estabilidade em meio ao caos.

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