As cidades do futuro devem ser sustentáveis, seguras, inclusivas e promover bem-estar para seus habitantes. Esse é o conceito que propõe uma análise aprofundada sobre os desafios atuais dos ambientes urbanos e as possibilidades de desenvolvimento mais humanizado.
O que define uma cidade de bem-estar?
Para Sophia Motta, arquiteta e urbanista, o ideal é que as pessoas tenham acesso a serviços essenciais, como farmácias, padarias e mercados, a uma distância de 400 a 500 metros, percorridos a pé. Esse conceito está ligado à cidade de 15 minutos, que prioriza a acessibilidade e a convivência.
Gabriela Tenorio, professora de urbanismo na Universidade de Brasília, destaca a importância de uma cidade diversa e democrática, com espaços que atendam às diferentes configurações e necessidades da população.
Arquitetura hostil e exclusão social
Quem é bem-vindo na cidade?
Espaços urbanos muitas vezes refletem exclusão e hostilidade, como bancos públicos ausentes ou mal planejados, que dificultam o uso por todas as pessoas. A arquitetura hostil, como muros altos, cercas elétricas e vegetação espinhosa, reforça a segregação e o isolamento de grupos vulneráveis, como moradores de rua.
Segundo Caio Vassão, a percepção de segurança muitas vezes é confundida com atitudes de isolamento que, na prática, fragilizam o espaço público. Gabriela Tenorio reforça: “A permeabilidade visual e acessibilidade são essenciais para que o espaço seja convidativo para todos.”
Construindo comunidades resilientas
Um bairro mais seguro é aquele onde há convivência marcada por olhares, trocas cotidianas e ocupação de espaços comuns. No entanto, condomínios verticais, com sua individualidade e dependência de carros, dificultam essa conexão comunitária.
Rafael Drumond reforça que a segurança não vem do isolamento, mas do fortalecimento das relações comunitárias. “Mais muros não resolvem os problemas. É preciso promover integração e fortalecimento social.”
Mobilidade e o desafio do carro na cidade
As cidades brasileiras ainda enfrentam dificuldades em reduzir a dependência do automóvel particular. Em São Paulo, 36,1% dos deslocamentos diários são feitos por veículos privados, o que aumenta congestionamentos e demanda por estacionamento.
Segundo Rafael Drumond, investir em transporte público de qualidade e calçadas acessíveis é fundamental. Gabriela Tenorio afirma que calçadas bem planejadas podem reduzir custos e melhorar a experiência urbana, tornando a cidade mais acessível e acolhedora.
Iniciativas urbanas e o papel do setor privado
Programas de revitalização, parcerias público-privadas e projetos de retrofit representam estratégias para transformar centros históricos e promover urbanismo sustentável. Na cidade de São Paulo, R$ 200 milhões foram destinados a esses projetos, promovendo a ocupação de edifícios antigos.
Essas ações são essenciais, mas ainda há um longo caminho a percorrer para garantir uma cidade realmente inclusiva e que priorize o bem-estar de seus moradores.
O impacto do turismo e os riscos da hostilidade urbana
Por outro lado, o turismo massificado gera impacto ambiental, aumento de emissões de carbono e problemas de convivência. Em destinos como Barcelona e Santorini, o excesso de visitantes tem provocado reações hostis e ações repressivas da administração local.
Medidas para regular o turismo, como restrições de aluguéis temporários e controle de fluxos, buscam equilibrar o desenvolvimento econômico com a qualidade de vida local. Como destaca o estudo da ONG Amigos da Terra, a emissão de CO₂ por cruzeiros marítimos é oito vezes maior do que a de um carro no mesmo trajeto, evidenciando o impacto ambiental do setor.
Perspectivas para cidades mais humanas
Repensar a infraestrutura urbana, investir em espaços públicos de qualidade e promover a convivência comunitária são caminhos para cidades mais humanas e sustentáveis. Como destaca Carlos Moreno, a otimização do tempo de deslocamento e a acessibilidade são essenciais para garantir o direito à cidade para todos.
Ao adotar estratégias que priorizem o bem-estar coletivo, é possível transformar as cidades em ambientes de convivência, inclusão e qualidade de vida, afastando-se das tendências de segregação e hostilidade.