A administração de Donald Trump anunciou, em setembro de 2025, a suspensão da publicação do relatório anual do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) sobre insegurança alimentar, uma medida que tem causado forte repercussão e críticas de entidades de defesa social e acadêmicos.
Fim de um histórico relatório de 30 anos
O último relatório, referente aos dados de 2024, está programado para ser divulgado em 22 de outubro. No entanto, o USDA, liderado pela secretária Brooke Rollins, afirmou que não continuará produzindo as publicações futuras. Este relatório, criado durante o governo Clinton em 1995, acompanhava as tendências de insegurança alimentar no país.
Na nota oficial, o USDA declarou que tais estudos “são redundantes, caros, politicamente carregados e dispensáveis”, além de questionar a validade das informações anuais, alegando que as tendências permanecem praticamente inalteradas desde 1995, apesar do aumento de mais de 87% nos gastos do Programa de Assistência Nutricional Suplementar (SNAP) entre 2019 e 2023.
Reações e críticas ao encerramento do relatório
Lisa A. Smith, vice-presidente de advocacia da Catholic Health Association dos EUA, lamentou a decisão. “A coleta de dados sobre insegurança alimentar não é ‘fundo liberal’, como alegam. Sem esses dados, fica mais difícil identificar áreas prioritárias de necessidade”, afirmou Smith. A entidade normalmente se alinha à doutrina da Igreja Católica, mas já revelou divergências com a Igreja nos temas de saúde pública, como o Affordable Care Act.
Para a professora de administração pública da Universidade de Syracuse, Colleen M. Heflin, a ausência de dados nacionais prejudicará o monitoramento das variações econômicas e políticas na insegurança alimentar e dificultará a atuação de instituições de caridade, incluindo organizações católicas. “O acompanhamento contínuo dos dados é essencial para ações eficazes”, disse Heflin, reiterando seu ceticismo quanto à justificativa do governo.
Implicações para políticas públicas e sociedade
O professor de economia da Universidade de Kentucky, James P. Ziliak, alertou que a eliminação do relatório pode diminuir a conscientização pública e a resposta de setores privados às necessidades de segurança alimentar. “Este relatório era um dos principais indicadores do bem-estar econômico de famílias de baixa e média renda nos EUA”, avaliou.
Especialistas discordam da alegação do governo de que o estudo era uma ferramenta ideológica. Heflin afirmou que a coleta de dados sobre insegurança alimentar é uma questão de consenso bipartidário desde os anos 1980. “A decisão e a justificativa dadas pelo USDA são surpreendentes e desprovidas de mérito”, completou.
Perspectivas futuras e possíveis impactos
O especialista em pobreza da Universidade de Kentucky, Ziliak, destacou que a decisão pode prejudicar o reconhecimento das necessidades de fome no país e enfraquecer a resposta de organizações sociais, incluindo hospitais e instituições de caridade católicas. “Este relatório era uma das histórias mais observadas para avaliar o bem-estar de famílias vulneráveis”, afirmou.
A decisão, ainda sem previsão de reversão, ocorre em um momento de desaceleração econômica e de cortes em programas federais de assistência alimentar, o que aumenta a preocupação de que a falta de dados possa dificultar a implementação de políticas eficazes para combater a insegurança alimentar nos Estados Unidos.
Mais informações sobre a decisão e suas repercussões podem ser acompanhadas no site da Catholic News Agency.