Enquanto o Palácio do Planalto tenta reorganizar seu apoio no Congresso, partidos que ocupam ministérios têm se distanciado em votações estratégicas na Câmara. A adesão às pautas do governo em 2025 caiu em comparação com os dois primeiros anos de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, refletindo o desgaste político e o reposicionamento das legendas para as eleições de 2026.
Mudanças nos votos e impacto nas articulações políticas
Um levantamento realizado pelo GLOBO revela que o MDB, por exemplo, reduziu a fidelidade ao governo neste ano. Essa tendência foi observada também em outras legendas do centro, como PP, União Brasil e PSD, que experimentaram uma queda acentuada na taxa de adesão a partir de 2024. Atualmente, o apoio segue abaixo do que foi registrado no início do mandato.
Esses movimentos coincidem com um fortalecimento das articulações da direita, especialmente em torno do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, do Republicanos. Esse distanciamento tem resultado em derrotas sucessivas para o Executivo em votações decisivas. Uma das últimas derrotas foi a que levou a Medida Provisória (MP) sobre o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) a perder a validade, um episódio que simbolizou o desgaste do governo.
Câmaras diferentes: posição no Senado
Apesar da queda no apoio na Câmara, o cenário no Senado é diverso. Davi Alcolumbre, presidente do Senado e do União Brasil, tem se posicionado como um interlocutor mais próximo de Lula. Ele busca apoio para Rodrigo Pacheco, do PSD, ser indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF).
A distribuição de cadeiras do Senado favorece a adesão às pautas do Executivo, devido à maior representação de parlamentares do Norte e Nordeste, que historicamente tendem a apoiar governos do PT.
Queda na adesão e a reação dos partidos
Na Câmara, mesmo com a aproximação de ministros como Simone Tebet, Renan Filho e Jader Filho, o MDB se distanciou de pautas estratégicas. Em 2023, a taxa de adesão do partido chegou a 75%, mas este ano caiu para 61%, com base em 142 votações nas quais governo e oposição tiveram orientações divergentes.
Além disso, o PP e o União Brasil, ambos com três ministérios sob sua responsabilidade, viram sua taxa de adesão cair significativamente, passando de 65% e 60% para 58% e 51%, respectivamente, em apenas dois anos.
Durante a votação da MP do IOF, impressionantes 97% dos deputados do PP votaram contra, em um claro sinal de oposicionismo em relação ao governo Federal.
A luta por apoio e a reorganização do governo
Os dirigentes do MDB sustentam que a legenda permanece aliada de Lula, argumentando que o distanciamento se deve à natureza das matérias votadas, e não a uma ruptura política. Baleia Rossi, que votou a favor do governo na PEC da Blindagem, exemplifica esse alinhamento, apesar de estar em desacordo com sua própria bancada.
Enquanto isso, membros do governo tentam reverter essa tendência de queda no apoio. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, defende uma reorganização da base aliada, enfatizando que aqueles que permanecem leais ao governo devem ser valorizados. Para tanto, já começaram a ocorrer demissões, particularmente aquelas ligadas ao PSD, também visando fortalecer a composição do governo.
O líder do governo na Câmara, Lindbergh Farias, atribui a redução da adesão a uma antecipação do calendário eleitoral. Ele alerta que os que optam por votar contra o governo podem se colocar no caminho da oposição, o que pode impactar negativamente suas futuras movimentos políticos.
O cenário político em Brasília se apresenta cada vez mais tumultuado, e as articulações em curso nas diferentes esferas do governo e do legislativo sugerem uma batalha não apenas pela governabilidade, mas também pela sobrevivência política até as eleições de 2026.