A Kering, grupo francês de luxo controlado por François-Henri Pinault, anunciou a venda de sua divisão de beleza para a gigante L’Oréal por 4 bilhões de euros (US$ 4,7 bilhões, aproximadamente R$ 25,1 bilhões na cotação atual). A operação faz parte de uma nova estratégia do CEO Luca de Meo, que busca fortalecer o foco em moda e diminuir a dívida do conglomerado.
Detalhes do acordo e impacto estratégico
Com o negócios, a L’Oréal adquiriu a marca de perfumes Creed, comprada pela Kering em 2023 por 3,5 bilhões de euros, além de obter direitos exclusivos por 50 anos para desenvolver fragrâncias e produtos de beleza das marcas do grupo, como Bottega Veneta e Balenciaga. A licença da Gucci também será cedida por essa mesma duração, após o término do contrato atual com a Coty, previsto para 2028.
De acordo com analistas da Bernstein, vender a divisão de beleza por um valor semelhante ao da Creed foi uma decisão difícil, porém necessária, dado o cenário financeiro do grupo. “Vender a Kering Beauté por um valor próximo ao pago pela Creed há dois anos reflete a necessidade de desinvestir em um segmento que vem apresentando resultados desafiadores”, avaliam.
Compra histórica e objetivos da L’Oréal
Após o anúncio, as ações da Kering tiveram alta de 4,7%, enquanto as da L’Oréal avançaram 1,4%. A aquisição da divisão de beleza da Kering representa a maior já realizada pela francesa, superando a compra da marca australiana Aesop, por US$ 2,5 bilhões em 2023.
A estratégia da L’Oréal visa fortalecer sua presença no mercado de luxo, que tem crescido a dois dígitos e responde por cerca de 14% de sua receita em 2024, de acordo com análise da Bernstein. Bruno-Roland Bernard, especialista em gestão de marcas de luxo, afirma que o portfólio da Kering oferece uma oportunidade para ampliar a atuação da companhia francesa em segmentos pouco explorados.
Mudanças na Kering e cenário financeiro
A venda ocorre em meio a um momento delicado para a Kering, que tinha uma dívida líquida de 9,5 bilhões de euros ao fim de junho, além de obrigações de arrendamento de 6 bilhões de euros. O grupo também enfrenta queda nas vendas da Gucci, sua principal marca, que recuou 25% no último trimestre — reflexo da desaceleração na China.
O CEO Luca de Meo, que assumiu o comando há menos de dois meses, revelou planos de cortar custos e reestruturar o grupo, incluindo a venda de participações em imóveis e o adiamento de aquisições, como a de Valentino. “Tomaremos decisões difíceis para reduzir a dívida e fortalecer o caixa do grupo”, afirmou De Meo aos acionistas.
Perspectivas futuras e impacto no mercado de luxo
A operação reforça a prioridade da L’Oréal em expandir sua linha de produtos de alta gama e ampliar sua atuação no setor de cosméticos de luxo. Além da licença das marcas de Kering, a companhia francesa firmou uma joint venture com a marca Yves Saint Laurent para oferecer experiências exclusivas ao público de alto poder aquisitivo.
Segundo especialistas, a negociata revela uma tendência das grandes empresas de luxo e cosméticos de buscar desinvestimentos estratégicos e fortalecer suas posições no mercado premium. Ainda não há confirmação sobre possíveis negociações similares envolvendo a marca italiana Armani, que também teria interesse em participar do segmento de luxo.
O que vem a seguir
O fechamento do negócio está previsto para o primeiro semestre de 2026, após análises regulatórias e ajustes finais. A operação marca um momento de reconfiguração no setor, com a L’Oréal avançando decisivamente na consolidação de sua atuação no segmento de perfumes e cosméticos de alto padrão, enquanto a Kering busca sanear seu balanço e focar na moda.