Uma nova espécie de raia-manta foi oficialmente reconhecida pela ciência, graças ao trabalho de pesquisadores brasileiros em Santos, no litoral de São Paulo. Batizada de Mobula Yarae, essa nova espécie homenageia a lenda folclórica da sereia Iara, refletindo a riqueza cultural do Brasil e a diversidade marinha do país.
A importância da descoberta
A coordenadora do Projeto Mantas do Brasil, Paula Romano, explicou que o estudo começou há 15 anos, sob a liderança da bióloga marinha Andréa Marshall, dos Estados Unidos. Durante suas pesquisas, ela descreveu duas espécies de raia-manta e previu a possível existência de uma terceira, que habitaria o Oceano Atlântico. O trabalho de campo que levou à confirmação da Mobula Yarae incluiu o recebimento de fotos de raias-manta enviadas por mergulhadores e colaboradores, que mostraram características diferentes das já conhecidas.
“Mostramos as imagens para a Andréa, e ela acreditou que se tratava da espécie que estava estudando, mas que era distinta das duas já descritas,” disse Paula. Esse feedback levou a uma colaboração internacional com cerca de 15 cientistas de diversos países, que começaram a coletar dados em locais como Ilha Comprida (SP), Fernando de Noronha (PE), Natal (RN), Quintana Roo (México), e Florida (EUA).
O processo de confirmação científica
A pesquisadora do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), Nayara Bucair, foi a responsável por dar continuidade ao trabalho de Andréa Marshall e formalizar a nova espécie. Ela explicou que o reconhecimento da Mobula Yarae é crucial para a conservação da biodiversidade. “Espécies não reconhecidas pela ciência têm maior risco de extinção. A descoberta não apenas avança a compreensão científica, mas também impulsiona as medidas de proteção,” destacou Nayara.
Características da Mobula Yarae
A Mobula Yarae impressiona com suas características únicas, podendo atingir até seis metros de largura. Destaca-se pela boca com dentes apenas na mandíbula inferior, apresentando de nove a 13 fileiras de dentes. A espécie também possui manchas ventrais específicas e um pequeno ferrão envolto por uma massa calcificada na cauda. “Elas são mais costeiras e parecem permanecer por mais tempo em águas rasas. Portanto, nosso objetivo agora é estudar sua rota de migração e identificar áreas prioritárias para conservação,” explicou Paula Romano.
Antes dessa descoberta, conhecíamos apenas duas espécies de raia-manta: a raia-manta-oceânica (Mobula birostris) e a raia-manta-recifal (Mobula alfredi), sendo essa última restrita ao Oceano Índico e ao Oceano Pacífico. Com a nova identificação, o gênero Mobula agora inclui 10 espécies, sendo três delas raias-manta, que são as maiores entre os mobulídeos.
Ameaças à Mobula Yarae
Apesar do entusiasmo gerado pela descoberta, a Mobula Yarae já enfrenta sérias ameaças. A pesca direcionada e acidental, a poluição e as colisões com embarcações estão entre as principais pressões que ameaçam sua sobrevivência. Além disso, a demanda por suas brânquias na medicina tradicional asiática intensifica sua captura em várias regiões do mundo.
Conforme alerta a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), todas as espécies de mobulídeos estão listadas na Lista Vermelha de espécies ameaçadas. No Brasil, desde 2013, todas as espécies de mobulídeos são protegidas pela Instrução Normativa Interministerial MPA/MMA N°. 02 de 13 de março de 2013 e estão incluídas no Plano de Ação Nacional para Conservação de Tubarões e Raias.
Conclusão
A descoberta da Mobula Yarae é um marco importante na ciência marinha brasileira, contribui para o conhecimento sobre a biodiversidade das raias-manta e destaca a necessidade urgente de conservação. A pesquisa feita por especialistas reconhece a interconexão entre a proteção das espécies e as culturas locais, relembrando que cada nova informação obtida é um passo à frente na luta pela preservação dos nossos oceanos.
Para saber mais sobre essa descoberta e os esforços de conservação associados, confira o artigo completo no g1.