Brasil, 21 de outubro de 2025
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A nova era da intervenção dos EUA na América Latina

A nova fase da intervenção dos EUA na América Latina levanta temores e incertezas, especialmente em relação à Venezuela e seus vizinhos.

A recente autorização de operações secretas da CIA na Venezuela pela administração Trump marca um ponto de virada na longa e muitas vezes sinistra história da intervenção dos Estados Unidos na América Latina. Após um século de interferência, que variou entre ações abertas, como a invasão do Panamá em 1989, e ações encobertas, como o apoio ao golpe de 1973 no Chile contra Salvador Allende, a tensão na região novamente se intensifica. As operações a que se refere Trump, incluindo ataques a embarcações suspeitas de transporte de drogas e uma inquietante manobra militar na região caribenha, colocam a pressão sobre o presidente venezuelano Nicolás Maduro em um novo patamar.

A história de interferência dos EUA na região

A memória das ditaduras latino-americanas que surgiram com o apoio dos EUA ainda é vívida. A Escola das Américas, que treinou mais de 45 mil oficiais latino-americanos em táticas de guerra suja, simboliza um legado sombrio que persiste, mesmo após seu fechamento em 1984. A CIA, muitas vezes a executora direta de complôs de golpe e assassinatos, tem sido a força motriz por trás das intervenções americanas, como a insurgência dos Contras na Nicarágua durante a década de 1980.

O intervencionismo dos EUA historicamente buscou preservar interesses estratégicos e econômicos, nas quais a luta contra o comunismo durante a Guerra Fria desempenhou um papel central. Contudo, nas últimas décadas, essa agenda se sobrepôs à guerra contra as drogas, promovida pela DEA, ampliando o escopo das operações americanas.

A nova estratégia de intervenção e suas repercussões

A abordagem atual da administração Trump, que explícita a intenção de neutralizar o regime chavista, gera um clima de terror psicológico entre os líderes do governo venezuelano. As operações extrajudiciais realizadas nas águas do Caribe resultaram em pelo menos 27 mortes, impulsionando a retórica agressiva e os presságios de uma possível incursão terrestre. A diferença fundamental em relação ao passado é a transparência da estratégia, em um mundo saturado por redes sociais e comunicações instantâneas.

Essa movimentação tem gerado desconforto e incertezas nas embaixadas latinas em Washington, preocupadas com a possibilidade de que o apetite intervencionista dos EUA vá além da Venezuela, afetando países como México e Colômbia, que já lidam com problemas relacionados ao narcotráfico e organizações criminosas.

A Doutrina Monroe e seu legado

A ideia por trás da Doutrina Monroe, que defende “a América para os americanos”, estabeleceu um espaço em que muitos países latino-americanos se tornaram, apesar de si mesmos, o quintal dos Estados Unidos. A transformação de um poder militar e político inserido na região possibilitou ações que se estenderam desde ocupações militares até mudanças de regimes, justificadas por crises financeiras ou a necessidade de “estabilização”.

Durante a Guerra Fria, os EUA se envolveram em cerca de 50 golpes de Estado sob a promessa de contenção ao comunismo. O maior exemplo de interferência desenfreada foi a Operação Condor, uma colaboração brutal entre ditaduras sul-americanas e Washington nos anos 70 e 80, estabelecendo um padrão alarmante de repressão.

Exemplos notáveis incluem a intervenção na Guatemala em 1954, onde o governo de Jacobo Árbenz foi derrubado em virtude de seus esforços de reforma agrária que ameaçavam os interesses da United Fruit Company, e o apoio ao regime militar no Brasil que se consolidou em 1964 com a derrubada do presidente João Goulart. A história recente das intervenções no Panamá e no Haiti é igualmente reveladora, mostrando a continuidade de um padrão de dominação.

O contexto atual e os desafios futuros

Venezuela, por sua vez, não estava no centro do mapa da intervenção dos EUA durante o século 20. As relações entre os dois países eram, até a ascensão de Hugo Chávez, predominantemente amistosas. No entanto, o cenário se tornou mais tenso a partir de 2019, quando Washington reconheceu Juan Guaidó como presidente interino. As consequências dessa hostilidade estão se intensificando, e o futuro de toda a região permanece incerto.

A dinâmica atual indica que o apoio explícito dos EUA a novas operações contra o governo venezuelano tem potencial para gerar reações em cadeia, podendo afetar outros países que têm laços diplomáticos e econômicos estreitos com Washington.

Com esse contexto em mente, a América Latina se vê novamente à mercê da história, onde os fantasmas de intervenções passadas ameaçam ressurgir em um cenário global cada vez mais complicado.

A vigilância internacional sobre a intervenção dos EUA e os desdobramentos na Venezuela e em outros países vizinhos se agrava, trazendo à tona questões de soberania, direitos humanos e estabilidade na região.

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