As mudanças nas regras de financiamento imobiliário previstas pelo governo visam ampliar o acesso à casa própria para a classe média, entretanto, a elevada taxa de juros da economia brasileira ainda representa um entrave para esse mercado, segundo executivos do setor e especialistas.
Impacto das novas regras no mercado imobiliário
As novas normas do governo elevam de R$ 1,5 milhão para R$ 2,25 milhões o limite para financiamento de imóveis pelo Sistema Financeiro de Habitação (SFH), trazendo maior compatibilidade com o padrão de renda da classe média. Apesar dessa facilitação, a taxa Selic, atualmente em 15% ao ano, mantém o custo do crédito elevado, dificultando a compra de imóveis mesmo com condições mais acessíveis.
Valorização do imóvel e aumento no volume de crédito
Segundo informações do Banco Central, o aumento do limite de financiamento deve abrir espaço para aproximadamente R$ 37 bilhões adicionais no mercado habitacional, contribuindo para uma oferta maior de crédito. Ainda assim, o diretor de Relações com Investidores da Lopes, Cyro Neufal, alerta que a alta das taxas de juros influencia diretamente no aumento das parcelas e na renda necessária para contratar o crédito imobiliário, o que pode adiar a decisão da classe média de comprar imóvel.
Desafios e efeitos da taxa de juros
Com a Selic em seu maior nível dos últimos 20 anos, o custo do financiamento continua a assustar os potenciais compradores. Os dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) indicam que, de janeiro a agosto, o volume de financiamentos com recursos da poupança caiu 20,3%, totalizando R$ 97,1 bilhões — uma retração de 18% em valor em comparação ao mesmo período de 2024.
Para especialistas, essa alta de juros reflete na desaceleração das vendas e na redução da capacidade de pagamento das famílias, especialmente nas faixas de médio padrão. Segundo Luiz França, presidente da Abrainc, a cada 1% de queda na taxa de juros, cerca de 160 mil famílias passam a ter capacidade de financiar um imóvel.
Perspectivas futuras e medidas do governo
O governo lançou um pacote de ações para ampliar os recursos disponíveis para o crédito imobiliário, incluindo a liberação de R$ 36,9 bilhões adicionais de recursos da poupança até o fim de 2026, além de permitir que bancos acessem 5% do compulsório de depósitos para financiar imóveis. A partir de 2027, essa parcela sobe progressivamente até atingir 100%, ampliando significativamente o volume de recursos acessíveis ao setor.
O aumento no limite de financiamento para imóveis de até R$ 1 milhão e a ampliação da participação da Caixa Econômica Federal, que elevará de 70% para 80% o percentual de financiamento, são estratégias para impulsionar o setor habitacional. Segundo o presidente da Caixa, Carlos Vieira, a medida deve liberar aproximadamente R$ 40 bilhões em novos empréstimos ao longo de um ano.
Restrições e riscos para o mercado
Apesar das facilidades, a alta da Selic mantém as condições desafiadoras. Especialistas apontam que um cenário de juros mais baixos estimularia uma maior liquidez e redução nas taxas de financiamento, acelerando a recuperação do mercado. Ygor Altero, da XP, comenta que uma queda na Selic faria mais sentido para incentivar as vendas na faixa de médio padrão.
O setor imobiliário, que no primeiro semestre de 2025 teve 87,2% das unidades lançadas voltadas para programas subsidiados como Minha Casa Minha Vida, também sofre com o impacto da restrição de recursos e as altas taxas de juros. Ainda assim, há sinais de otimismo com novas estratégias e melhorias nas condições de crédito que devem ajudar a destravar o mercado em médio prazo.
Para conferir detalhes sobre as medidas e o contexto completo, acesse a matéria completa no G1.