Na manhã recente em Chicago, Ulysses Moreno, desempregado há poucos dias, aguardava na fila do Pilsen Food Pantry, projeto que distribui alimentos a moradores vulneráveis. Com três adolescentes em casa, Moreno afirmou que o apoio é essencial para manter a alimentação da família em meio ao aumento da desigualdade econômica no país.
Aumento da divisão social e mudanças no mercado de trabalho
Apesar do cenário de dificuldades para trabalhadores de baixa renda, setores de luxo em áreas como a Magnificent Mile de Chicago permanecem movimentados, com hotéis lotados e restaurantes repletos de consumidores dispostos a gastar altos valores. Para Evelyn Figueroa, médica que administra a despensa em Pilsen, essa disparidade revela uma economia que, para alguns, vai muito bem, enquanto outros vivem momentos de crise.
Dados evidenciam o aumento da desigualdade
Segundo estimativas da Moody’s Analytics, os 10% mais ricos dos lares norte-americanos representam agora quase metade de todos os gastos no país — a maior fatia desde os anos 1980. Paralelamente, a confiança do consumidor entre as famílias de baixa renda diminui, enquanto os mais abastados continuam gastando livremente, impulsionados por um mercado acionário em alta.
Cenário de consumo e vulnerabilidade crescente
O aumento da desigualdade também se reflete na predominância do consumo dos ricos, que mantém o crescimento devido à valorização de ações e de setores de alta renda. Enquanto isso, famílias de baixa renda reduzem gastos e recorrem ao endividamento para sobreviver, com muitos atrasando pagamentos de dívidas e cortando despesas não essenciais.
Dados do Federal Reserve Bank de Atlanta indicam que os salários de trabalhadores com menor remuneração estão crescendo lentamente, revertendo o ritmo observado durante a pandemia. Essa desaceleração, aliada à inflação persistente, pressiona as finanças de muitas famílias, que utilizam cartões de crédito e empréstimos para pagar as contas.
Mercado de trabalho e novas vulnerabilidades
O mercado de trabalho, que até recentemente oferecia boas oportunidades para trabalhadores de baixa renda, enfrenta sinais de enfraquecimento. A taxa de desemprego subiu para 4,3% em agosto, e as contratações desaceleraram, dificultando a recolocação de quem perdeu o emprego. Nessa situação, quase 2 milhões de americanos estão desempregados de forma prolongada, um recorde desde o auge da pandemia.
No bairro de Pilsen, muitos moradores têm medo de sair às ruas devido à intensificação da fiscalização migratória, refletindo o clima de insegurança que afeta toda a comunidade. Para Saunders, uma ex-funcionária de uma empresa financeira que busca emprego há quase dois anos, a realidade é dura: ela consegue apenas pagar gasolina e comida, sem sobra para economizar ou quitar dívidas.
Desafios para a economia americana
Analistas apontam que a dependência do consumo de uma parcela pequena da população, aliada à vulnerabilidade de famílias de baixa renda, cria riscos potenciais para o crescimento econômico. O Federal Reserve monitora com atenção a possibilidade de aumento na inadimplência e na redução dos gastos, o que pode agravar a desaceleração futura.
Embora indicadores macroeconômicos mostrem que a economia americana permanece resiliente, o aumento da desigualdade e a fragilidade do mercado de trabalho deixam claro que a situação de vulnerabilidade de muitas famílias é cada vez maior. Segundo especialistas, essa realidade exige atenção redobrada das autoridades econômicas e sociais.
Fonte: O Globo