Brasil, 19 de outubro de 2025
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Comércio ao redor do Complexo Penitenciário de Bangu movimenta a comunidade

Comércio na zona oeste do Rio de Janeiro se adapta às necessidades de famílias de detentos.

Localizado na Zona Oeste do Rio de Janeiro, o Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, é um importante centro, não só pela sua função carcerária, mas também pelo impacto econômico que gera nas redondezas. Há quase 40 anos em funcionamento, o complexo abriga mais de 23 mil detentos e, posteriormente, recebe um grande movimento de visitantes, o que propicia um comércio singular nas imediações. Com uma variedade de serviços e produtos adaptados às necessidades das famílias que ali se concentram, os comerciantes da região se destacam por suas iniciativas inovadoras e envolvimento com a comunidade.

A sobrevivência emocional e econômica das famílias

Entre os variados comerciantes da área, a pastora Andileia Santos, de 51 anos, se tornou uma figura emblemática. Conhecida pela preparação e venda de “jumbos” — kits de comida que as famílias levam para os detentos —, ela conquistou popularidade nas redes sociais. Com mais de 500 mil visualizações no TikTok, Andileia prepara os combos com ingredientes frescos e receitas tradicionais, garantindo que suas refeições sejam bem recebidas. A rotina começa às 01h da madrugada e só termina às 17h, após a visitação.

As famílias podem levar até quatro potes de comida, os quais são cuidadosamente preparados para atender às normas do presídio. Os combos variam de R$ 125 a R$ 205, dependendo da quantidade de proteínas. “Aqui preparamos tudo. A família só traz os potes”, explica Andileia, ressaltando a solidariedade existente entre as famílias, que muitas vezes colaboram entre si para garantir que todos possam levar algo para os detentos.

Moradia e acolhimento: a iniciativa de Célia Oliveira

Célia Oliveira, outra comerciante que atua na região, transformou sua experiência em ajudar pessoas que ficam em situação de vulnerabilidade. Observando pessoas dormindo sob marquises, ela decidiu abrir um dormitório próximo ao complexo penitenciário. Com o negócio em operação desde os anos 2000, Célia aprimorou suas instalações, criando um espaço que hoje consegue acomodar mais de 30 pessoas por noite.

Com diárias que variam entre R$ 25 a R$ 80, o dormitório se destaca por seu ambiente familiar e acolhedor. “Muita coisa não pode. Por exemplo, eu não permito bebida aqui dentro, eu não permito palavrões, porque a gente tem que respeitar”, afirma Célia, que se preocupa em manter um clima harmonioso entre os hóspedes. Seu objetivo é fornecer um local seguro e um espaço onde as famílias possam sentir-se acolhidas, mesmo sob as circunstâncias difíceis.

Ricardinho e o suporte às ex-detentas

Ricardo Domingos Pinheiro, conhecido como Ricardinho do Bar, também desempenha um papel importante nesse ecossistema de apoio. Ele gerencia um bar em frente ao Presídio Djanira, a unidade feminina do complexo, e se envolve ativamente na reintegração de mulheres que acabam de deixar a prisão. Ele se coloca à disposição para oferecer auxílio emocional e logístico, buscando apenas oferecer suporte humano àquelas que saem do cárcere sem um lar ou uma rede de apoio.

“Quando as meninas saem de liberdade, eu procuro estar sempre dando um suporte. Ajudo que elas entrem em contato com a família e acalmo elas um pouco”, conta Ricardinho, que muitas vezes se torna a única âncora para essas mulheres em um momento tão delicado. Ele reconhece a fragilidade da situação e implementa estratégias para garantir que as ex-detentas cheguem com segurança aos seus destinos.

Desafios e oportunidades na comunidade

A força e a união do comércio ao redor do Complexo Penitenciário de Bangu refletem um microcosmo da luta pela sobrevivência em condições adversas. A pandemia afetou esses negócios, mas muitos, como Andileia, Célia e Ricardinho, encontraram formas inovadoras de se adaptar e prosperar. Enquanto o comércio varia entre a venda de alimentos, produtos de higiene e até hospedagem, o que prevalece é o espírito solidário e a dedicação em apoiar aqueles que enfrentam momentos difíceis.

Esses comerciantes não apenas atendem às necessidades práticas das famílias de detentos, mas também oferecem um apoio emocional fundamental que muitas vezes é negligenciado pelo sistema. O comércio em Bangu redefine os padrões de comunidade, mostrando que a compaixão e a colaboração podem surgir mesmo nas circunstâncias mais desafiadoras.

O cenário é um lembrete poderoso de que, em meio à dor e ao sofrimento, a humanidade é capaz de florescer através do amor e da solidariedade.

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