Brasil, 19 de outubro de 2025
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A verdade sobre falsas confissões: o caso de Francisco Mairlon

Após 15 anos, Francisco Mairlon é inocentado; interrogatórios coercitivos levantam debate sobre confissões falsas e justiça no Brasil.

No cenário da justiça brasileira, o caso de Francisco Mairlon Barros Aguiar destaca a questão das falsas confissões e os métodos coercitivos empregados nas investigações policiais. Mairlon, que passou quase 15 anos preso pelo triplo homicídio da 113 Sul, foi inocentado recentemente, levantando questionamentos cruciais sobre a validade de confissões obtidas sob pressão. Especialistas alertam que esse fenômeno não é isolado e que a manipulação durante os interrogatórios pode induzir indivíduos a admitirem crimes que não cometeram.

O impacto dos interrogatórios coercitivos

Francisco Mairlon foi condenado em 2010 com base em confissões atribuídas a interrogatórios realizados sob intensa pressão psicológica. As estratégias utilizadas durante esses interrogatórios incluem mudanças constantes de interrogadores, discussões sobre as possíveis consequências da prisão e estratégias de persuasão que visam obter confissões a qualquer custo. A advogada Lívia Moscatelli, especialista em direito penal, destaca como essas abordagens podem gerar falsas confissões e comprometer a integridade da investigação.

“Muitas pessoas podem ser quebradas sob pressão policial: abatidas, exaustas, desorientadas”, explica Dora Cavalcanti, advogada de Mairlon e fundadora do Innocence Project Brasil. “Após longos períodos de interrogatório, a probabilidade de uma pessoa assumir a responsabilidade por um crime que não cometeu aumenta de forma exponencial.”

Interrogatórios no Brasil: um olhar crítico

Os métodos de interrogatório utilizados no Brasil muitas vezes se assemelham ao interrogatório acusatório, que é amplamente criticado por sua ênfase na obtenção de confissões em detrimento da busca pela verdade factual. Esse modelo, inspirado no Método Reid desenvolvido nos Estados Unidos, foca na manipulação e na pressão psicológica, ao invés de uma investigação objetiva e cuidadosa.

Esse tipo de abordagem pode levar a erros judiciais sérios, principalmente entre jovens, pessoas com problemas de saúde mental ou sob efeito de substâncias. A psicóloga forense Elisa Krüger fala sobre as consequências psicológicas que uma pessoa pode enfrentar após um interrogatório coercitivo, que incluem depressão e ansiedade, além da própria confissão que resultou em sua condenação.

Confissão: a “rainha das provas” e suas implicações

No contexto jurídico brasileiro, a confissão tem um peso desproporcional, frequentemente considerada a “rainha das provas”. Dados de pesquisas indicam que, em muitos casos, a confissão é o principal direcionador para a identificação do autor de um crime, o que levanta sérias questões sobre a validade dessa prática sem uma investigação aprofundada e baseada em evidências.

Em 80% das investigações em cidades como Brasília e Rio de Janeiro, a confissão foi o principal mecanismo que levou à condução do caso, segundo a pesquisa “O inquérito policial no Brasil: uma pesquisa empírica”. A defesa de Mairlon, assim como outros especialistas, questiona este método que privilegia a confissão em relação a provas técnicas sólidas, como análises forenses.

Diretrizes para evitar erros jurídicos

Para evitar que casos como o de Francisco Mairlon se repitam, especialistas sugerem a implementação de diretrizes éticas e eficazes para o processo de interrogatório. Isso inclui a adoção de métodos internacionais que busquem respeitar os direitos humanos dos indivíduos durante as investigações.

Modelos como o “Peace” do Reino Unido, que prioriza a formação de um ambiente de confiança e liberdade, e os Princípios Méndez da ONU, que promovem práticas não violentas e a proteção de grupos vulneráveis, são exemplos que poderiam ser adaptados no contexto brasileiro. A advogada Luiza Ferreira enfatiza a necessidade de um sistema que trate todos os acusados como inocentes até que se prove o contrário, sugerindo que a presunção de inocência deve ser um princípio fundamental durante todo o processo judicial.

Reflexões finais

A luta contra as falsas confissões e os interrogatórios coercitivos no Brasil é uma questão crítica que afeta muitas vidas. O caso de Francisco Mairlon serve como um alerta sobre os riscos de se confiar apenas em confissões, especialmente em um sistema onde os direitos dos acusados muitas vezes são negligenciados. É essencial sensibilizar a sociedade e as instituições sobre a importância de práticas investigativas éticas, respeitosas e baseadas na verdade.

As consequências de condenações baseadas em falsas confissões não devem ser subestimadas e uma reforma significativa nas práticas de interrogatório é necessária para garantir a justiça e a integridade do sistema penal brasileiro.

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