O Museu do Caramulo, situado na pequena cidade homônima em Portugal, vem se beneficiando de uma mudança inesperada no programa de golden visas. Desde a implementação da modificação na legislação, o museu arrecadou mais de €20 milhões em doações e investimentos, garantindo sua sustentabilidade e promovendo uma revitalização da cidade de apenas mil habitantes.
Golden visa impulsiona o setor cultural e econômico em Caramulo
Fundado pelo bisavô de Salvador Patrício Gouveia, Jerónimo Lacerda, em 1921, o Museu do Caramulo enfrentava dificuldades financeiras até receber uma injeção de recursos por meio do programa de golden visas de Portugal. Segundo Patrício Gouveia, o sucesso foi uma mudança completa de jogo: “Em apenas dois anos, conseguimos arrecadar mais de €20 milhões, o que nos permitiu realizar reformas estruturais e adquirir veículos de valor histórico, incluindo um raro Bugatti 35B”.
Transformação cultural e atração turística
O museu, que também planeja expandir sua coleção com um futuro museu de brinquedos, foi beneficiado com a entrada de doadores de países como China e Estados Unidos. A cidade, antes distante e pouco visitada, agora recebe eventos e turistas, chegando a registrar 60 mil visitantes em 2024, com uma crescente expectativa de aumento para este ano.
Para Patrício Gouveia, porém, o impacto vai além do setor cultural: “Caramulo está no meio do nada, e o dinheiro do golden visa está ficando bem aqui, para que as futuras gerações possam aproveitar. É uma oportunidade que nunca mais se repetirá”.
O papel do programa de golden visa na economia portuguesa
O programa de golden visa de Portugal, criado em 2012 durante a crise financeira, inicialmente incentivava investimentos em imóveis com valores a partir de €500 mil. O esquema, responsável por arrecadar mais de €7 bilhões e transformar Lisboa em um polo imobiliário, foi suspenso em 2023 devido ao aumento dos custos de moradia e à crise habitacional. Desde então, o foco mudou para doações para projetos culturais ou investimentos em fundos de ativos portugueses.
Apesar de críticas por potencializar o aumento dos preços imobiliários e por não gerar impactos diretos na economia e na sociedade, o programa ainda atrai investidores de diversos países. Em 2024, as aprovações de golden visas aumentaram 72%, atingindo quase 5 mil concessões, com destaque para cidadãos dos Estados Unidos, China e Rússia.
Diversificação e possíveis ajustes
Atualmente, muitos investidores preferem aplicar em fundos que destinam mais de 60% de seus recursos em ativos locais, como títulos, ações, projetos agrícolas e energias renováveis, incluindo energias solar. Ainda assim, há uma discussão sobre o impacto econômico do programa, com setores questionando se essas aplicações realmente beneficiam o país a longo prazo.
Investimentos em agricultura e legado duradouro
Fundos como Pela Terra utilizam os recursos dos golden visas para promover agricultura sustentável, envolvendo investidores como Jim Davidson, dos EUA, que vêem na iniciativa uma forma de contribuir para o crescimento de Portugal enquanto garantem uma residência para o futuro. O fundo já arrecadou mais de €75 milhões e promove a cultura de amêndoas e oliveiras em terras portuguesas.
Além das ações e fundos, o dinheiro também é canalizado para o setor de artes e melhorias na infraestrutura local. Criadores de projetos culturais e de preservação, como a Fundação Ricardo Espírito Santo Silva, recebem fundos para restauração de patrimônios históricos, como o Palácio Azurara, com o objetivo de criar uma alternativa ao sistema de vistos por compra de imóveis.
Perspectivas futuras para o golden visa em Portugal
Enquanto o governo português insiste na manutenção do programa, com reformas que visam uma maior justiça social, os críticos alertam que mudanças podem ocorrer à medida que crescem as dúvidas sobre o retorno do investimento e o impacto na sociedade. Especialistas afirmam que, apesar do potencial, o futuro do golden visa pode envolver ajustes para equilibrar atração de capital com necessidades sociais e econômicas do país.
Como exemplificado pelo sucesso do Museu do Caramulo, o programa continua sendo uma ferramenta poderosa para revitalizar regiões pouco exploradas e atrair investimentos diversificados, incluindo cultura, agricultura e inovação tecnológica, fortalecendo a presença de Portugal no cenário europeu.
