A RioPrevidência, fundo que administra recursos para pagar aposentadorias e pensões de mais de 235 mil servidores públicos do Rio de Janeiro, aplicou cerca de R$ 1 bilhão em letras financeiras do Banco Master nos últimos meses. Os investimentos foram realizados mesmo após alertas do Tribunal de Contas do Estado Rio (TCE-RJ) sobre irregularidades na gestão desses recursos.
Investimentos em letras financeiras do Master geraram preocupação
Até abril de 2025, a entidade já tinha aproximadamente R$ 960 milhões aplicados em títulos emitidos pelo Banco Master, o que corresponde a cerca de 8% do seu patrimônio. Essas letras financeiras, por sua vez, não possuem cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), aumentando o risco dos investimentos, segundo informações do GLOBO.
Em maio, após detectar “graves irregularidades” nas aplicações, o TCE emitiu um alerta aos gestores do fundo alertando que novas operações poderiam aumentar o risco de irregularidades, expondo o Rioprevidência e seus responsáveis pessoalmente.
Monitoramento revela alta concentração de recursos no Banco Master
Apesar do alerta, técnicos do Tribunal de Contas constatam que, entre maio e julho, os aportes no Banco Master continuaram, totalizando cerca de R$ 1 bilhão. Segundo o acompanhamento, há uma “concentração crítica” do patrimônio do fundo no banco, com R$ 2,6 bilhões investidos em títulos ou fundos administrados pela instituição financeira — mais de 25% do total do fundo.
A relatora do caso no TCE, conselheira Mariana Montebello Willeman, afirmou que os novos aportes indicam um “agravamento do cenário e irregularidades”, além de evidenciar uma “gestão possivelmente irresponsável” dos recursos públicos.
Decisão do TCE e futuro da gestão
Na última sessão do TCE, realizada em 8 de novembro, os conselheiros decidiram, por unanimidade, que o fundo de pensão se abstenha de realizar novos investimentos em instrumentos financeiros emitidos, administrados ou geridos por empresas do Banco Master e outras instituições financeiras que não atendem aos princípios de segurança, proteção e prudência financeira.
Além disso, a corte determinou a intimação do governador Cláudio Castro para avaliar uma possível intervenção no fundo, de modo a adotar medidas rápidas para corrigir as falhas identificadas e evitar problemas futuros na gestão de recursos.
Investigação e denúncias que motivaram o caso
A apuração do TCE começou no ano passado após denúncia do deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSD-RJ). Em audiência pública em novembro de 2024, o diretor-presidente do Rioprevidência, Deivis Antunes, confirmou que o fundo tinha cerca de R$ 960 milhões investidos em letras financeiras do Banco Master.
Em dezembro, o tribunal apontou indícios de irregularidades nos investimentos, sustentando que as aplicações foram feitas sem autorização do conselho de administração, com justificativas inconsistentes, e que os investimentos em letras financeiras ocorreram desde antes de 2023.
Durante audiência, o ex-diretor de investimentos do fundo, Euchério Lerner Rodrigues, destacou que a concentração dos recursos em instituições financeiras maiores tinha como justificativa as altas taxas de rendimento — superiores a 130% do CDI — e um contrato do banco com o governo do Rio que incluía crédito consignado para servidores.
Segundo ele, a decisão de aplicar no Banco Master ocorreu por esses fatores e pela busca por diversificação no portfólio de investimentos do fundo.
A situação levanta discussões sobre o risco envolvido neste tipo de aplicação e a responsabilidade dos gestores públicos na administração dos recursos previdenciários.
O GLOBO procurou a RioPrevidência na manhã desta sexta-feira e aguarda retorno. A investigação e as decisões do TCE continuam em andamento para esclarecer os detalhes e definir ações futuras.