Nos primeiros nove meses de 2025, as polícias do Rio de Janeiro apreenderam um total de 593 fuzis, segundo informações do Instituto de Segurança Pública (ISP). Este número impressionante representa uma média de dois fuzis retirados das mãos de criminosos a cada dia e já se configura como o maior volume de apreensões desde o início das estatísticas, há 18 anos. A situação atual revela a gravidade da violência armada no estado, que se intensifica com operações frequentes direcionadas a comunidades dominadas por facções criminosas e milícias.
A crescente violência armada e suas consequências
A mais recente onda de violência ficou evidente durante operações realizadas esta semana, na qual foram apreendidos 31 fuzis em diferentes locais. Na segunda-feira (13), por exemplo, 12 fuzis foram localizados em posse de milicianos numa construção abandonada na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá. Em um episódio separado, um indivíduo armado com um fuzil trocou tiros com policiais militares durante uma perseguição que começou na Chatuba, em Mesquita, bairro conhecido como reduto do Comando Vermelho.
As apreensões não se restringem a apenas algumas áreas. No final de semana passado, foram encontradas armas em diversos locais, incluindo Jardim América, Sebinho, Guaxindiba e Santa Luzia. O uso de fuzis por criminosos se tornou parte do cotidiano no estado, sendo empregado em uma variedade de crimes, desde roubos de carga e veículos até confrontos armados. Um crime brutal envolvendo a morte de dois homens em situação de rua, que foram alvejados enquanto dormiam sob um viaduto em Irajá, também foi atribuído ao uso de fuzis — um dos disparos foi confirmado pela polícia.
Fatores que agravam a situação da segurança pública
Bruno Langeani, consultor do Instituto Sou da Paz, apontou que a fragmentação de poder entre as facções tem agudizado a dinâmica criminal no Rio. “Essa guerra acontece com muito mais frequência devido a essa disputa territorial”, afirma. Além de evidenciar os confrontos entre facções, essa fragmentação também se reflete em um fenômeno alarmante: o estado do Rio lidera o ranking nacional de apreensões de fuzis. Segundo dados da Secretaria Nacional de Segurança Pública, 40% dos fuzis apreendidos no Brasil até agosto foram encontrados no Rio, enquanto o segundo colocado, São Paulo, registrou apenas 310 apreensões no mesmo período.
A nova estratégia dos criminosos
Um aspecto preocupante é que parte do arsenal em circulação é resultado de uma nova estratégia das quadrilhas. Criminalidade organizada tem importado peças e montado fuzis dentro do país, o que se traduz em um aumento na disponibilidade de armas para essas facções. Recentemente, uma operação da Polícia Federal revelou uma fábrica clandestina em Santa Bárbara d’Oeste (SP), com a capacidade de produzir até 3,5 mil fuzis por ano, parte deles destinados a facções do Rio, incluindo grupos que atuam no Complexo do Alemão e na Rocinha.
Até 2019, a compra de fuzis por civis era proibida, mas a mudança na legislação em governos recentes permitiu que caçadores e atiradores esportivos tivessem acesso a esse tipo de armamento, podendo adquirir até 30 unidades. Langeani argumenta que um controle rigoroso da munição poderia resultar em uma redução significativa da violência em um curto espaço de tempo, solicitando a reinstauração de políticas que impeçam a proliferação de armamentos entre civis e grupos criminosos.
Com a realidade atual da segurança pública no Rio de Janeiro, as contínuas apreensões de fuzis e o aumento da violência armada exigem uma resposta adequada e imediata das autoridades para que se possa restaurar a segurança e a paz na população carioca.