Um recente levantamento realizado por estudantes e professores da Universidade Veiga de Almeida (UVA) trouxe à tona uma triste realidade: as bitucas de cigarro, filtros e outros resíduos derivados do tabaco estão liderando a poluição das praias na Região dos Lagos. A pesquisa faz parte do Projeto Imersão, que integra o programa Blue Keepers, uma iniciativa do Pacto Global da ONU voltada para a redução da poluição marinha. As coletas foram realizadas entre 2024 e 2025, contabilizando aproximadamente 4.500 resíduos de cigarro descartados de forma irregular.
A gravidade da situação
As bitucas de cigarro, feitas de acetato de celulose – um tipo de plástico sintético –, podem demorar até 15 anos para se decompor completamente no meio ambiente. Segundo Eduardo Pimenta, biólogo e coordenador do Projeto Imersão, os dados obtidos durante o levantamento são fundamentais para a formulação de políticas públicas e estratégias empresariais ligadas à gestão de resíduos. Com essas informações, é possível desenvolver campanhas de conscientização, instalar lixeiras e criar estratégias para reduzir e substituir materiais nocivos ao meio ambiente.
A pesquisa foi apresentada durante o 2º Congresso Internacional de Resíduos e Saneamento (CIRS Búzios 2025). Pimenta destaca que a conscientização sobre o descarte correto de resíduos é crucial, especialmente devido ao fato de que mais de 70% do material coletado nas praias é plástico. Esse tipo de resíduo, ao se fragmentar em micro e nanoplásticos, representa um risco direto para a fauna marinha e até mesmo para a saúde humana.
Impactos na saúde e na biodiversidade
O biólogo alerta que as partículas de plástico são ingeridas por organismos como plânctons e peixes, e, consequentemente, acabam retornando ao ser humano através da cadeia alimentar. Essa conexão enfatiza a urgência em lidar com a questão da poluição plástica nas praias, que não é apenas um problema ambiental, mas também uma questão de saúde pública.
Coleta e monitoramento contínuo
As coletas de resíduos são feitas quatro vezes ao ano, nos meses de março, junho, setembro e dezembro, em cinco pontos fixos da Região dos Lagos: Praia do Forte em Cabo Frio, Praia dos Anjos em Arraial do Cabo, Praia do Popeye em Iguaba Grande, Praia do Sudoeste em São Pedro da Aldeia e o Mangue de Pedras em Armação dos Búzios. As áreas analisadas são faixas paralelas ao mar, com cinco metros de largura, que vão da linha da maré até a vegetação ou calçamento, priorizando trechos com maior acúmulo de resíduos.
Como os dados foram coletados
Os dados obtidos pelo projeto oferecem um panorama alarmante sobre a poluição plástica nas praias da Região dos Lagos, tanto em quantidade quanto em tipo de resíduos coletados. O ranking dos resíduos coletados nas praias revela números preocupantes, com o seguinte resultado:
- Plástico: 10.134 unidades
- Metal: 1.417 unidades
- Vidro e cerâmica: 1.012 unidades
- Papel e papelão: 964 unidades
- Madeira: 554 unidades
- Plástico expandido: 314 unidades
- Têxtil: 172 unidades
- Multimateriais: 98 unidades
- Látex e borracha: 83 unidades
Esses números são um chamado à ação: é essencial que a sociedade, empresas e governos unam forças para reduzir a quantidade de resíduos que poluem as praias. A participação ativa da comunidade é fundamental para a proteção das riquezas naturais da Região dos Lagos e para garantir a saúde de futuras gerações.
O Projeto Imersão, desenvolvido pela UVA com o apoio da concessionária Prolagos, tem como objetivo monitorar o descarte de lixo nas praias e evitar que resíduos plásticos atinjam o oceano. Com essa pesquisa, espera-se que o aumento da conscientização leve a uma mudança de comportamento que beneficie o meio ambiente e a saúde pública.
As evidências apresentadas por esse estudo devem servir não apenas para alertar sobre a gravidade da poluição nas praias, mas também para inspirar ações concretas rumo a um futuro mais sustentável.