Dados divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE apontam que, apesar da liberdade aparente, a maior parte dos trabalhadores em plataformas digitais não possui total autonomia sobre valores, clientes ou prazos. A maior parte dos entregadores e motoristas de aplicativo está sujeita às regras impostas pelas próprias plataformas, que definem grande parte do seu trabalho.
Dependência das plataformas na definição de valores e clientes
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC), 91,2% dos trabalhadores com aplicativos de transporte afirmaram que o valor recebido é determinado pelo próprio aplicativo. Para os entregadores de produtos, esse percentual foi de 81,3%. Além disso, 76,7% dos motoristas disseram que os clientes atendidos também são definidos pela plataforma, assim como 73,5% dos entregadores.
Controle sobre prazos e turnos
Sobre os prazos para realização das tarefas, 70,4% dos trabalhadores de entregas relataram que esse aspecto é controlado pelas plataformas. A maioria dos motoristas (78,5%) afirmou que sua jornada de trabalho é influenciada por incentivos e promoções. Ainda, 55,8% indicaram que esses incentivos, bônus ou promoções modificam os valores e as condições do trabalho.
Impacto na autonomia e nas condições de trabalho
Embora 86,1% dos trabalhadores por aplicativos sejam autônomos, a possibilidade de escolha de horários e dias depende, na maioria dos casos, das regras estabelecidas pelas plataformas. Anderson Trajano, entregador de 32 anos, explica que trabalha cerca de dez horas por dia para ganhar até R$ 200, pois precisa conciliar a necessidade de sustento com a pouca demanda de entregas na modalidade “nuvem” do iFood.
Já motoristas de aplicativo também sentem a influência das plataformas na sua rotina. Segundo dados, 75% dos trabalhadores nesse setor atuam de forma independente, mas com autonomia limitada, já que muitas vezes dependem de incentivos e de regras impostas pelos operadores dos aplicativos.
Modais diferentes e suas desvantagens
Para quem busca maior estabilidade e volume de entregas, há a opção pelo Operador Logístico (OL), que exige CNPJ, horarios fixos e locais definidos, mas garante um pagamento de R$ 2,55 por hora. Paulo Roberto, 19 anos, que faz entregas de bicicleta, explica que sua escolha é motivada pela prioridade nas corridas e pelo objetivo de crescer profissionalmente.
Segundo ele, a procura por corridas funciona de forma que, caso demorem a ser chamadas, sua pontuação cai, dificultando o recebimento de novas solicitações. “Quero estudar para mudar de profissão, mas aqui tenho que ralar muito para ganhar alguma coisa”, afirma.
Alterações e debates sobre direitos dos entregadores
Recentemente, decisões judiciais e mudanças nas regras vêm impactando a rotina desses trabalhadores. A reportagem do O Globo destaca que entregadores não são mais obrigados a entrar em condomínios na cidade do Rio de Janeiro, um avanço nas condições de trabalho.
Especialistas alertam que, mesmo com a aparência de autonomia, muitos profissionais continuam à mercê das plataformas, sem direitos garantidos e com seus rendimentos precários. A regulamentação e a fiscalização desses aplicativos permanecem como temas centrais no debate por melhores condições de trabalho.