A indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, ao Supremo Tribunal Federal (STF) gera uma profunda divisão na bancada evangélica do Congresso. Esse grupo, reconhecido por sua forte ligação com o bolsonarismo, agora se vê fragmentado em suas opiniões. De um lado, líderes consideram Messias um candidato “preparado e conservador” que poderia representar os valores cristãos sem romper as relações com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Do outro, uma facção critica sua suposta filiação ao PT, afirmando que ele encarna um projeto que não atende aos interesses da bancada.
Apoio e resistências internas
A divisão evidenciou-se em pesquisas internas realizadas ao longo da semana. Um levantamento feito pelo GLOBO com 91 deputados que se autodeclararam evangélicos ao Instituto de Estudos da Religião (Iser) revela que, dos 43 que responderam, 28 manifestaram apoio à indicação de Messias. Apenas 8 se opuseram, enquanto 7 permaneceram neutros ou sem opinião formada. Esses dados mostram que a coesão do grupo, que anteriormente se unia em pautas morais, está se esvaindo entre moderados que se aproximam do governo e radicais que permaneceram fiéis ao bolsonarismo.
Deputados próximos ao presidente da Frente Parlamentar Evangélica, Gilberto Nascimento (PSD-SP), relataram que procuraram Jorge Messias para expressar suporte. “Ele une preparo jurídico e um perfil conservador”, informou um dos apoiadores.
Nomes influentes como Silas Câmara (Republicanos-AM) e Cezinha de Madureira (PSD-SP) também se manifestaram favoravelmente à indicação de Messias. Câmara descreveu Messias como um “cristão sério” que possui princípios que refletem os valores da maioria dos brasileiros. Cezinha, por sua vez, mencionou que a escolha de Messias por Lula poderia ser uma manobra inteligente, considerando que Messias “atende à maioria do PT” ao mesmo tempo que pertence à ala conservadora.
O papel de Messias na relação com evangélicos
Jorge Messias, que é membro da Igreja Batista, é visto como um conector entre a cúpula do PT e os evangélicos. Seus aliados o consideram uma figura de fé discreta que busca estabelecer laços com líderes religiosos, mesmo diante de reações adversas, como vaias durante eventos cristãos em que representou o governo Lula. Essa disposição para interagir com líderes religiosos é vista como um passo importante para reverter a alta taxa de desaprovação ao governo entre os evangélicos, que atualmente chega a 63% segundo a Quaest.
O Censo de 2022 indicou que os evangélicos representam 26,9% da população brasileira, aproximadamente 56 milhões de pessoas, um eleitorado que foi majoritariamente bolsonarista nas últimas eleições, com cerca de 80% votando em Jair Bolsonaro.
Entre os que apoiam a indicação de Messias, encontramos outros nomes destacados, como os deputados Marcelo Crivella (Republicanos-RJ) e David Soares (União-SP), filho de RR Soares, que também expressaram seu respaldo.
Resistência bolsonarista e o impacto no debate
Em contrapartida, a ala bolsonarista da bancada faz resistência e tenta moldar a narrativa em torno da indicação. Marco Feliciano (PL-SP), da Assembleia de Deus Catedral do Avivamento, alegou que a possível escolha de Messias é ideológica, argumentando que mesmo sendo evangélico, sua nomeação estaria atrelada à sua lealdade aos governos petistas.
Clarissa Tércio (PP-PE), também da Assembleia de Deus em Pernambuco, criticou fortemente a indicação, considerando-a uma péssima escolha devido ao histórico de Messias com Lula e o PT. Ela defendeu que a nomeação apenas solidificaria um projeto político-ideológico no STF.
Apesar das críticas, há quem, mesmo entre os bolsonaristas, reconheça que Messias provoca menos resistência do que outros candidatos. O deputado Eli Borges (PL-TO), que mantém um bom relacionamento com a facção bolsonarista, admitiu que a indicação pode ser um aceno aos evangélicos, mas reforçou que a atuação de Messias no STF é que realmente importará.
Atualmente, Jorge Messias se mantém discreto em relação à sua possível indicação, evitando discussões públicas sobre o tema e aguardando o movimento do presidente. À medida que a condução deste processo avança, será interessante observar como essa divisão afetará a dinâmica da bancada evangélica no Congresso e sua relação com o governo Lula.