No fim do mês passado, a disputa cada vez mais acirrada entre Washington e Pequim pelo controle das cadeias de suprimentos de tecnologia atingiu a Holanda. Sob pressão dos Estados Unidos, o governo holandês assumiu o controle das decisões da fabricante de chips Nexperia, de propriedade chinesa, numa tentativa de blindar a cadeia produtiva de semicondutores contra restrições internacionais.
Controle holandês sobre a Nexperia e pressionamentos dos EUA
A Nexperia, sediada na Holanda e controlada pela chinesa Wingtech, atua na fabricação de semicondutores mais antigos, usados em automóveis e eletrônicos, além de empregar milhares de profissionais na Europa, Ásia e nos Estados Unidos. Após a intervenção do governo holandês, as decisões da empresa passaram a ser determinadas pelo ministro de Assuntos Econômicos, Vincent Karremans, em meio ao impacto de novas restrições comerciais impostas pelos EUA.
Documentos divulgados em tribunal de Amsterdã revelaram que, meses antes, autoridades americanas pressionaram o governo holandês contra a propriedade da empresa chinesa. Em dezembro, o Departamento de Comércio dos EUA já havia imposto restrições à Wingtech, e, em junho, alertou que a Nexperia poderia também ser alvo caso não substituísse seu CEO chinês, Zhang Xuezheng. Segundo oficiais americanos, a permanência do CEO chinês na direção da empresa era considerado “problemático”.
Disputa por influência na indústria de semicondutores
Essa movimentação faz parte de uma batalha global pelo controle da indústria de chips, essencial para setores como automotivo, tecnologia e defesa. Estados Unidos e China reivindicam ampla autoridade sobre as cadeias de fornecimento de semicondutores e minerais críticos, considerados estratégicos para a segurança nacional. Outros países, incluindo a Holanda, buscam limitar a propriedade de ativos tecnológicos chineses sob o argumento de proteger interesses próprios, afirma Reva Goujon, diretora do Rhodium Group.
A estratégia chinesa inclui o investimento maciço em sua indústria doméstica, além de aquisições no exterior, enquanto enfrenta dificuldades em produzir componentes de ponta. Ainda assim, o país aumenta sua produção de chips mais antigos, utilizados em várias aplicações industriais, o que preocupa militares e economistas de países como os EUA e a União Europeia.
Reações e efeitos das ações governamentais
Após a intervenção holandesa na Nexperia, o governo chinês proibiu as unidades da empresa na China de exportar certos produtos, tentando resistir às sanções. Em nota, a empresa chinesa busca uma isenção dessas restrições, mobilizando recursos para tal. O Ministério do Comércio chinês criticou as ações dos EUA, alegando que eles prejudicam a segurança e estabilidade da cadeia global de suprimentos.
Além da disputa nos semicondutores, Pequim anunciou controles severos sobre minerais utilizados na fabricação de chips, além de impor sanções contra subsidiárias americanas de empresas sul-coreanas, alegando apoio às forças dos EUA na indústria naval. Reva Goujon acrescenta que a busca por retomada de controle sobre ativos estratégicos é uma tendência que deve continuar à medida que a rivalidade entre Washington e Pequim se intensifica.
Implicações e perspectivas futuras
Especialistas alertam que essa rivalidade pode causar desabastecimento, tensão econômica e maior fragmentação do mercado global de tecnologia. Governo dos EUA e aliados tentam reforçar suas cadeias domésticas, enquanto Pequim reforça seu próprio planejamento de desenvolvimento tecnológico. A disputa pelo controle dessas cadeias é vista como uma nova fase na concorrência geopolítica mundial, com efeitos de longo prazo para a indústria de semicondutores e a economia global.