Nos últimos dias, o noticiário brasileiro tem ecoado uma sensação de repetição, similar ao famoso “Dia da Marmota” do filme “Feitiço do Tempo”. Essa é a realidade apontada por diversas publicações que analisam a recente situação dos Correios, uma entidade estatal que parece estar presa em um ciclo vicioso de crise, promessas de reestruturação e a inevitável necessidade de socorro financeiro.
A situação atual dos Correios
Na última terça-feira, a estatal anunciou um plano de reestruturação que inclui medidas como redução de despesas, demissões e a venda de ativos. Entretanto, os detalhes sobre a quantidade de demissões e a economia esperada foram deixados de lado, e o plano parece mais uma coletânea de generalidades do que uma estratégia bem elaborada. O dado mais alarmante é a necessidade de um socorro financeiro de R$ 20 bilhões para evitar a falência.
O peso do socorro financeiro
Essa quantia, equivalente a um empréstimo garantido pelo Tesouro, levanta questões sérias sobre o futuro da empresa, especialmente em um momento em que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva já enfrenta dificuldades financeiras e disputas com o Congresso por recursos adicionais. Embora o governo argumente que esse valor não é tecnicamente dinheiro da União, a verdade é que, se os Correios não conseguirem arcar com a dívida, o contribuinte será o responsável pela conta.
Este é o segundo plano de demissão voluntária anunciado em menos de um ano e uma tentativa de cobrir outra dívida que já havia sido contraída. Historicamente, os Correios têm sido um terreno fértil para escândalos, corrupção e gestão ineficiente, o que apenas acentua a percepção de que a empresa é “insalvável”. De fato, autenticar essa reestruturação parece apenas uma forma de evitar uma discussão mais profunda sobre as falhas estruturais dessa estatal.
As raízes do problema: corrupção e má gestão
Os problemas dos Correios remontam a décadas, quando, em 2005, o escândalo de corrupção do mensalão se tornou um marco para o governo de Lula. Portanto, quando falamos sobre a situação atual, precisamos olhar para o passado e compreender como a empresa se tornou um “cabide de empregos” e um foco de corrupção.
A má gestão financeira é outra questão complicada; o fundo de pensão dos funcionários, o Postalis, foi mal administrado, resultando em um rombo estimado em mais de R$ 15 bilhões que continua a impactar negativamente quem trabalha e trabalhou na empresa.
A privatização: uma solução viável?
As tentativas de privatização dos Correios não são novas. Durante os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, a proposta de venda da estatal foi discutida. No entanto, Lula, ao assumir, revogou esses planos e decidiu aumentar o número de funcionários, defendendo a ideia de que os Correios desempenham uma função social indispensável, especialmente em áreas remotas ou vulneráveis.
Esse raciocínio ecoa as discussões da década de 1990, quando a privatização de serviços essenciais, como telefonia, foi amplamente debatida. Naquele período, a resistência à privatização foi alimentada pela crença de que as estatais são insubstituíveis. Entretanto, vemos hoje que a tecnologia mudou drasticamente, e muitos serviços estão disponíveis sem a necessidade de uma estatal obsoleta e com um histórico de corrupção.
O futuro dos Correios e as lições do passado
A experiência vivida em outros setores mostra que, com uma regulação eficaz, é possível estimular a concorrência e garantir um serviço de qualidade. A pergunta que fica é: até quando a sociedade irá arcar com os custos de uma operação que se prova insustentável? O “Dia da Marmota” pode ser uma metáfora poderosa, mas a população não deve aceitar ser repetidamente obrigada a financiar um sistema que claramente falhou.
Nesse cenário, é fundamental que o Brasil repense a sua abordagem em relação aos Correios e outros serviços estatais. A persistência em soluções arcaicas e ineficazes não levará a um futuro mais próspero; ao contrário, pode apenas prolongar uma crise que muitos já consideram irreversível.