O estado do Piauí, com seus 203 anos de história, celebra o seu aniversário não apenas com festas, mas também com importantes conquistas na valorização da cultura popular. Dentre os destaques desse cenário, o artesanato se consolida cada vez mais como uma das expressões mais autênticas da identidade piauiense, recebendo o reconhecimento tanto a nível nacional quanto estadual. As técnicas tradicionais, que são transmitidas de geração a geração, têm movimentado a economia local e contribuído para a preservação da memória coletiva.
Patrimônio Cultural e reconhecimentos recentes
Um dos avanços mais significativos nessa trajetória é o recente reconhecimento da arte santeira em madeira como Patrimônio Cultural do Brasil. Esta honraria, concedida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), reflete uma rica tradição que é mantida viva por mestres artesãos em diversas cidades do estado, simbolizando a união entre fé e criatividade.
Além disso, o Governo do Estado, por meio de um decreto assinado pelo governador Rafael Fonteles, oficializou o reconhecimento do artesanato de cerâmica em argila branca, oriundo do bairro Curtume, em Floriano, como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Piauí. Essa prática artesanal, com quase um século de história, se solidificou como um símbolo importante da cultura local.
A cerâmica, que é produzida manualmente por famílias do Curtume, destaca-se pela técnica que é passada com carinho de geração para geração. O processo de extração a partir de um material escuro, que após a queima se torna claro, torna essa cerâmica uma peça rara no Brasil. Maria das Mercês, presidente da Cooperativa do Artesão dos Curtume (Cooargila), expressa sua alegria com a conquista: “Eu gosto demais de artesanato. É por meio dele que obtemos o sustento da nossa família. Ver a cerâmica aqui do Curtume reconhecida é muito gratificante”, afirmou.
Inovações e sustento familiar através do artesanato
O artesanato piauiense, no entanto, não se restringe apenas a tradições centenárias. Também está se renovando com iniciativas contemporâneas, como é o caso do ateliê Oxente Flowers, fundado pelas irmãs Renata e Eduarda Cruz. As artesãs incorporam a sustentabilidade em suas práticas, utilizando materiais que antes seriam descartados, e os transformam em novas obras de arte.
“Reutilizamos madeira, fibras como carnaúba e coqueiro, e outros materiais recicláveis, dando vida nova a cada pedaço que iria para o lixo. Nosso processo é consciente e feito à mão, respeitando os ciclos e recursos do meio ambiente,” explicam as irmãs. O trabalho delas transcende a criação de objetos, homenageando as belezas naturais e culturais do Piauí.
As irmãs, inspiradas pela tradição da modelagem em cerâmica, desenvolveram uma técnica única que combina papelão e massa corrida. “Cada relevo nasce do toque das mãos, do cuidado e da vontade de reinventar o simples,” afirmam, destacando a essência do feito à mão que permeia suas criações.
Promoção e visibilidade do artesanato local
Para ampliar ainda mais o alcance do artesanato local, o governo do estado tem investido em inclusão digital e na expansão das vendas. O programa “Made In Piauí” foi criado para permitir que artesãos, que antes vendiam apenas em feiras e lojas físicas, agora possam acessar novos mercados com apoio tecnológico e contínuo.
Como parte das ações para promover os ofícios tradicionais, a Casa do Artesão Design Mestre Albertino, localizada na Central de Artesanato Mestre Dezinho, abriu suas portas para a exposição “Carpintaria Naval Artesanal em Escala Reduzida”, do artesão Ulisses Lima. A mostra, que ficará disponível até o dia 24 de outubro, apresenta miniaturas de embarcações tradicionais esculpidas em madeira, atraindo um público diversificado, incluindo estudantes e apreciadores da arte.
Assim, o Piauí não apenas festeja seus 203 anos, mas também reafirma seu compromisso com a valorização e preservação do artesanato, que é uma peça fundamental na construção da identidade cultural e na promoção do desenvolvimento econômico local.