A poucos quilômetros de Kumasi, segunda maior cidade de Ghana, trabalhadores galamsey escavam a terra em busca de ouro, uma atividade ilegal que rende dezenas de dólares semanais, mas causa severos danos ambientais. Com o preço do ouro atingindo recordes mundiais de US$ 4 mil por onça, a mineração clandestina se intensifica, alimentada pelo aumento da demanda global, especialmente pela China.
O impacto da mineração ilegal de ouro em Ghana
Os mineradores ilegais utilizam mercúrio para extrair o ouro, o que polui rios e terras agrícolas, além de representar riscos à saúde, com ligações a doenças graves e problemas de parto. Apesar do esforço do governo, liderado pelo presidente John Mahama, para combate à atividade, ela continua resistente devido à importância econômica para milhões de ghaneanos.
“Tenho trabalhado com galamsey há 15 anos”, conta Steven, que também é motorista e agricultor, em uma referência à atividade clandestina considerada um sustento vital. Ele explica que seu ganho semanal de cerca de 81 dólares é oito vezes maior do que o salário mínimo nacional, o que explica a persistência do setor, mesmo com os riscos e ilegalidades.
Esforços governamentais e dificuldades na luta contra o galamsey
O governo de Ghana criou a GoldBod, uma agência reguladora que busca fiscalizar a mineração e interromper as operações ilegais. Além disso, policiais realizam operações de repressão e apreendem equipamentos. No entanto, “é uma luta complexa”, reconhece Mahama, ressaltando que mais de 1,5 milhão de ghaneanos dependem da atividade.
Os desafios sociais e econômicos
Para muitos, o galamsey é uma alternativa de sobrevivência diante da falta de alternativas econômicas. Assim, o combate à atividade implica também na necessidade de oferecer opções viáveis para esses trabalhadores, muitas vezes vítimas de condições precárias de vida.
A relação do mercado internacional com a crise do ouro ilegal
A demanda crescente por ouro, sobretudo da China — que acumula reservas para fortalecer seu sistema financeiro e evitar sanções — impulsiona o aumento da mineração clandestina no Sul Global. A China ocultamente possui mais que o dobro do ouro oficialmente declarado, o que alimenta o mercado ilícito e a criminalidade organizada, conforme alerta o Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC).
Estima-se que cerca de 50 mil prospectores chineses operem ilegalmente em Ghana, contribuindo para o aumento da devastação ambiental e conflitos sociais. A crise do ouro ilegal, portanto, é uma questão global, que envolve também interesses geopolíticos e econômicos complexos.
Perspectivas futuras e a busca por soluções sustentáveis
Especialistas apontam que o combate efetivo ao galamsey exige uma abordagem integrada que inclua alternativas econômicas para comunidades afetadas, fiscalização mais rigorosa e um controle internacional do mercado de ouro ilícito. Enquanto isso, a luta de Ghana contra as minas ilegais continua, com o desafio de equilibrar desenvolvimento econômico, preservação ambiental e segurança social.