Cinco dias após o ministro Luís Roberto Barroso anunciar sua aposentadoria do Supremo Tribunal Federal (STF), os favoritos à vaga na mais alta Corte do país têm adotado uma postura de discrição. Essa estratégia visa evitar qualquer pressão sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, responsável pela indicação do novo ministro. Personalidades como Jorge Messias, advogado-geral da União, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e Bruno Dantas, do Tribunal de Contas da União (TCU), têm se mantido em silêncio público e focados em compromissos técnicos e institucionais.
A movimentação silenciosa dos cotados
As agendas oficiais dos mencionados têm sido compostas principalmente por compromissos ligados à sua atuação institucional. Messias, por exemplo, tem se concentrado na defesa de políticas públicas e interações com órgãos do Judiciário, sem se envolver em discussões sobre sua possível indicação ao STF. Na noite de um encontro recente com Lula, ministros do STF estavam presentes, mas notablemente, Messias não participou de um jantar em homenagem a Barroso, optando por manter sua rotina de trabalho.
A escolha de Messias de não comentar sobre a disputa também é vista como uma mudança de estratégia. Em 2023, ele candidatou-se à vaga aberta pela aposentadoria da ministra Rosa Weber, envolvendo-se ativamente nas articulações políticas e sociais. Agora, sua postura mais reservada reflete uma preocupação em não ofender Lula ou prejudicar a relação com o presidente, especialmente considerando a possibilidade de uma segunda rejeição à sua indicação.
Implicações para a política nacional
Durante uma entrevista ao GLOBO, Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado, destacou Messias como o candidato mais próximo do presidente, embora reconheça que Pacheco e Dantas também têm a confiança de Lula. A discrição dos candidatos é interpretada como uma forma de respeitar o tempo de análise do presidente, que reiterou a intenção de fazer uma escolha baseando-se em critérios jurídicos e políticos, sem revelar prazos ou nomes.
Relações delicadas no Planalto
A aposentadoria antecipada de Barroso causou inquietação no Palácio do Planalto. O presidente Lula, já lidando com situações críticas no Congresso, ficou irritado ao perceber que a saída de Barroso poderia intensificar a pressão por uma nova indicação. Informações indicam que Lula não atendeu a ligação de Barroso após o anúncio de sua aposentadoria, evidenciando um momento de tensão nas relações políticas.
O perfil dos candidatos à vaga
Além de Messias, Pacheco e Dantas, outros fatores também influenciam a escolha do próximo ministro. O aspecto religioso, por exemplo, é considerado um trunfo para Messias, que se identifica como evangélico. Isso poderia representar uma tentativa de Lula de se aproximar de um eleitorado que, em grande parte, manifestou afinidade com o bolsonarismo em eleições anteriores.
Pacheco, por sua vez, tem evitado se pronunciar sobre a sucessão no STF e procurado passar mensagens sutis ao presidente sobre suas preferências. Recentemente, ele participou de uma reunião com líderes do Judiciário, onde sua presença foi notada, mas suas entrevistas enfatizam que não se trataram de discussões sobre a indicação.
Por fim, Bruno Dantas, que participou de um evento da FAO em Roma, também tem seu nome cotado, embora sua relação com Lula não tenha se aprofundado durante sua estadia na Itália. A discrição adotada por todos os candidatos reflete, portanto, não apenas uma estratégia pessoal, mas uma compreensão ampla sobre o momento político sensível que o país atravessa.
A espera pela definição do novo nome no STF é um tema que aguarda atenção, com todos os envolvidos mantendo seus olhares voltados para as decisões estratégicas de Lula. A escolha do novo ministro poderá impactar não apenas a composição do STF, mas toda a dinâmica política no Brasil, numa fase que se mostra crítica e estratégica para o governo.