Os Correios anunciaram nesta quarta-feira (15) que estão em negociação com bancos para obter um empréstimo de R$ 20 bilhões, recurso que visa enfrentar a grave crise financeira que assola a estatal desde 2024. A iniciativa faz parte de um amplo processo de reestruturação financeira, dirigido a melhorar a liquidez e retomar a estabilidade operacional da empresa.
Busca por empréstimo para garantir liquidez e continuidade das operações
Segundo o presidente Emmanoel Schmidt Rondon, que assumiu o cargo há menos de um mês, o contrato ainda não foi fechado, estando em fase de negociação. “A gente precisa recuperar a liquidez da empresa para que a gente possa, por exemplo, pagar o Programa de Demissão Voluntária (PDV) e fortalecer o fluxo de caixa”, afirmou Rondon. A operação com bancos é uma tentativa de assegurar recursos necessários ao funcionamento da companhia.
Crise financeira e prejuízos crescentes
Em setembro de 2025, os Correios divulgaram prejuízo de R$ 4,3 bilhões no primeiro semestre, um aumento de R$ 3 bilhões em relação ao mesmo período de 2024, quando o déficit foi de R$ 1,3 bilhão. Desde 2024, a empresa utilizou R$ 2,9 bilhões de suas aplicações financeiras e caixa, o equivalente a 92% do saldo de 2023. Para lidar com a escassez de recursos, a gestão anterior tomou um empréstimo de R$ 1,8 bilhão com bancos, que também foi destinado ao fluxo de caixa operacional, já bastante pressionado.
Impactos na operação e serviços prestados
Devido à falta de dinheiro em caixa, os Correios têm atrasado repasses e pagamentos essenciais. Transportadoras parceiras estão paralisadas ou operando com menor ritmo, prejudicando entregas. Além disso, houve atraso no pagamento de comissões a agências franqueadas e no repasse para o plano de saúde dos funcionários, o que chegou a suspender atendimentos em algumas redes hospitalares.
Adiamentos de dívidas e medidas emergenciais
Em julho, a estatal decidiu adiar o pagamento de obrigações que totalizavam cerca de R$ 2,75 bilhões, como uma estratégia para preservar a liquidez diante dos 12 trimestres consecutivos de prejuízo. Entre os débitos suspensos estão valores referentes ao INSS, fornecedores, planos de saúde e tributos, cuja postergação evita a aplicação de multas e juros, mas não interrompe as operações.
Reforço nas medidas de contenção e planos futuros
Durante a coletiva, Rondon destacou que medidas emergenciais adotadas em maio de 2025 — como redução de gastos, suspensão temporária de férias, incentivo ao trabalho remoto e revisão de contratos — não tiveram impacto estrutural suficiente para reverter a crise. Agora, a empresa busca ações mais duradouras, incluindo a ampliação da receita por meio de novos produtos e a implementação de um novo plano de demissão voluntária (PDV).
Entre os planos anunciados, estão a venda de imóveis ociosos, compartilhamento de unidades, redução de custos operacionais e melhorias na logística, bem como um marketplace próprio previsto para ser lançado ainda em 2025. Além disso, a companhia planeja captar R$ 3,8 bilhões junto ao New Development Bank (NDB) para investimentos internos.
Perspectivas e desafios à frente
Rondon afirmou que as medidas tomadas até o momento representam ações emergenciais e que serão complementadas por novas iniciativas mais duradouras e estruturantes. Ainda sem detalhes específicos, ele reforçou que a busca por recursos e a readequação das operações são prioridades para a recuperação da saúde financeira da estatal.
A expectativa é que, com o empréstimo de R$ 20 bilhões e a implementação dessas ações, os Correios possam retomar as operações normais, quitar dívidas e restabelecer sua credibilidade frente ao mercado e aos seus parceiros.