Um novo estudo revela que a percepção comum de que a juventude é sinônimo de desempenho máximo pode estar errada. Segundo a pesquisa, a verdadeira plenitude das capacidades mentais e emocionais dos seres humanos se atinge por volta dos 60 anos, e não nas duas primeiras décadas de vida. Os pesquisadores Gilles Gignac, da Universidade da Austrália Ocidental, e Marcin Zajenkowski, da Universidade de Varsóvia, publicaram suas descobertas na revista Intelligence, sustentando que, embora a velocidade de raciocínio diminua com o tempo, outros aspectos, como experiência, julgamento e inteligência emocional, continuam a se desenvolver até essa fase da vida.
A evolução da inteligência ao longo da vida
O estudo analisou um índice composto que abrangeu nove dimensões psicológicas principais, revelando que enquanto a força física e algumas habilidades cognitivas, como a velocidade de processamento, começam a declinar após os 20 anos, a combinação de inteligência, estabilidade emocional e habilidades de decisão continua a melhorar entre os 40 e os 65 anos. Os resultados sugerem que a melhor mescla dessas qualidades se encontra aproximadamente aos 60 anos.
Após os 65 anos, notas médias de desempenho começam a diminuir, mas muitos indivíduos permanecem com suas capacidades cognitivas aguçadas até os 70 anos e além. Essa descoberta traz à tona a ideia de que o envelhecimento não implica necessariamente em um declínio das habilidades, mas sim em uma evolução até o estágio mais capaz da vida adulta.
O efeito compensatório da meia-idade
Os pesquisadores encontraram que, embora um jovem de 25 anos possa processar informações mais rapidamente e resolver problemas abstratos de forma mais eficiente, a sabedoria acumulada ao longo dos anos proporciona aos adultos mais velhos vantagens significativas. A inteligência cristalizada, que envolve conhecimento e vocabulário, continua a crescer até os 60 anos, enquanto a literacia financeira também tende a melhorar nesta faixa etária.
Além disso, a capacidade de raciocínio moral cresce durante a maior parte da vida adulta, e a inteligência emocional geralmente atinge seu ápice na meia-idade. Segundo os cientistas, os adultos mais velhos são cerca do dobro mais propensos a evitar a “falácia do custo afundado” em comparação aos mais jovens, oferecendo maior resiliência em decisões financeiras.
O auge da realização na carreira
A pesquisa também revela que grandes conquistas na carreira, como salários e prestígio, tendem a atingir o auge entre os 50 e 55 anos. Não apenas líderes políticos, mas também executivos que ocupam cargos de destaque são frequentemente eleitos ou promovidos entre os 50 e 60 anos. Esse padrão se repete em diversas culturas, incluindo sociedades tradicionais, onde o sucesso nas atividades de caça é maximizado entre 35 e 50 anos.
Gignac e Zajenkowski testaram suas teorias criando dois modelos de ponderação. O modelo convencional enfatizou principalmente as capacidades cognitivas tradicionais e os traços de personalidade, enquanto o modelo abrangente considerou uma gama mais ampla de competências, como inteligência emocional e raciocínio moral, mostrando um aumento contínuo mesmo até os 60 anos.
Refletindo sobre como vemos o envelhecimento
A ideia comum de que a juventude representa o ápice das capacidades humanas, seguida por um ciclo de perdas, é questionada pelos dados apresentados no estudo. Apesar da diminuição de algumas habilidades cognitivas, os ganhos em outros aspectos propiciam um ponto de equilíbrio que ocorre muito mais tarde do que uma análise superficial poderia sugerir.
Além disso, o estudo aponta que a faixa etária de 40 a 65 anos representa o máximo potencial psicológico para a tomada de decisões complexas e significativas. Para aqueles que ocupam posições de liderança e responsabilidade, a capacidade de julgamento, regulatória emocional e sabedoria adquirida ao longo da vida demonstram ser essenciais para o sucesso.
Essas descobertas, portanto, não apenas reforçam a ideia de que envelhecer é um processo que pode trazer inúmeras vantagens, mas também demandam uma repensação de atitudes sociais que tendem a marginalizar os mais velhos em contextos profissionais e de liderança. Enquanto nem todos os indivíduos acima dos 65 anos podem manter um desempenho elevado, muitos mostram-se mais do que aptos a enfrentar os desafios à frente, revelando o potencial ainda inexplorado dessa fase da vida.
Concluímos que, diante dessas novas evidências, é essencial valorizar e integrar os conhecimentos e experiências dos mais velhos em nossa sociedade.