Na última terça-feira (14), o Superior Tribunal de Justiça (STJ) tomou uma decisão impactante ao anular a condenação de Francisco Mairlon Barros Aguiar, um dos acusados de envolvimento no chamado “Crime da 113 Sul”. Mairlon, que foi preso há quase 15 anos, deverá ser solto nos próximos dias, assim que o acórdão for publicado e a Vara de Execuções Penais do DF for notificada. A decisão dos ministros trancou a ação penal e anulou todo o processo, tornando Mairlon um inocente, sem qualquer condenação ou acusação.
A relevância do caso para a justiça brasileira
O triplo homicídio que ocorreu em Brasília em 2009 ainda é lembrado por muitos. As vítimas desse crime brutal foram o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral, José Guilherme Villela, sua esposa, Maria Villela, e a empregada do casal, Francisca Nascimento da Silva. O caso, que ganhou notoriedade e até uma série documental no Globoplay, trouxe à tona questões sobre erros judiciais e a vulnerabilidade do sistema de justiça brasileiro. Mairlon sempre negou sua participação e, com o apoio da ONG Innocence Project, sua defesa encontrou novas evidências que contestam sua condenação.
Defesa e evidências que levaram à anulação
A decisão do STJ segue uma longa batalha legal. A advogada Flávia Rahal Bresser Pereira, representante da Innocence Project, destacou que Mairlon foi tratado como um réu invisível durante todo o processo, e que as confissões que o incriminaram foram feitas sob intensa pressão psicológica. “Ao longo das 16 mil páginas, ficou evidente que Mairlon foi esquecido e invisibilizado”, afirmou Flávia durante sua defesa, ressaltando que a única base para a denúncia foram confissões extrajudiciais, sem provas materiais.
Os principais argumentos apresentados pela defesa incluem:
- Confissões feitas sob pressão: Mairlon e outros condenados relataram ter feito suas confissões após horas de interrogatório e sob condições estressantes.
- Falta de provas: Além das confissões, não havia evidências concretas, como DNA ou testemunhas que confirmassem a participação de Mairlon no crime.
- Retratação dos outros réus: A defesa argumentou que outros acusados retractaram suas confissões em juízo, indicando a fragilidade das declarações originais feitas sob coação.
Mudança de versão e tortura policial
A situação se complica ainda mais quando se considera que, em 2024, Paulo Santana — um dos condenados — admitiu ter mentido e afirmou que Mairlon é inocente, ressaltando que sua confissão foi obtida sob tortura policial. “Ele [Mairlon] é inocente. Ele foi levado a pagar por um crime que não cometeu”, disse Paulo em uma entrevista à ONG Innocence Project.
A repercussão na opinião pública
A anulação da condenação de Francisco Mairlon é um divisor de águas não apenas para ele, mas também para a jurispudência brasileira. O caso levanta questionamentos sobre a forma como os processos judiciais são conduzidos no Brasil, principalmente em casos que envolvem confissões. A sociedade civil e as organizações de direitos humanos veem essa decisão como um passo importante para a reparação de erros judiciários.
Futuro de Francisco Mairlon
Após quase 15 anos atrás das grades, Mairlon se prepara para recuperar sua liberdade. Ele foi pai durante sua prisão e, com a anulação de sua condenação, espera se reunir com sua família e reconstruir sua vida. A ONG Innocence Project promete continuar lutando por justiça, não apenas para Mairlon, mas para todos os que foram vítimas do sistema penal.
Embora a decisão do STJ tenha trazido alívio para Mairlon, o Ministério Público pode recorrer. Assim, o desdobramento do caso ainda não está encerrado, mas a esperança é que essa história de injustiça finalmente encontre um desfecho favorável.
As nuances deste caso demonstram a fragilidade do sistema de justiça criminal e a importância de se garantir que erros não se repitam, garantindo, assim, que a verdade e a justiça prevaleçam.