O presidente de Madagascar, Andry Rajoelina, fugiu do país nesta semana após três semanas de protestos liderados pela geração Z e uma defecção militar, que culminaram na tomada de poder por parte de militares. Ele foi forçado a se esconder após uma revolta popular e a deserção de uma unidade da força militar que apoiava os manifestantes.
Militares assumem controle e demitem o governo
Militares do grupo CAPSAT, que apoiaram os protestos contra a gestão de Rajoelina, anunciaram a dissolução do Senado e da comissão eleitoral (CENI) durante uma manifestação em Antananarivo. A chegada das tropas ao centro da capital foi recebida com entusiasmo pelos manifestantes, que exigiam o fim do reajuste político e uma mudança na liderança do país, que sofre com crises econômicas e corrupção.
O chefe militar, que discursou ao lado dos manifestantes, afirmou que pretende “restaurar a estabilidade e reabrir os canais de diálogo com a população”, após apoiar os protestos que se intensificaram com o passar das semanas. Segundo fontes militares, a ação visa “restabelecer a ordem constitucional” após a crise que se agravou com a tentativa de Rajoelina de dissolver o parlamento que votou por sua impeachment.
Fuga de Rajoelina e cenário de instabilidade
Após a derrota, Rajoelina embarcou em um avião militar francês e deixou a ilha, que fica na costa sul da África, em meio a uma situação de instabilidade política. O líder, que ocupa o cargo desde 2009 após um golpe de Estado, tentou declarar a dissolução do Congresso nesta semana, mas sua medida foi considerada inconstitucional pelos opositores.
Enquanto isso, jovens de Madagascar participaram de manifestações contínuas, com destaque para Angie Rakoto, de 21 anos, que declarou na praça May 13 a seus colegas: “Ele tem que sair. Imediatamente.” A praça, símbolo dos protestos, remete à Revolução de 1972, uma revolta juvenil que expulsou o primeiro presidente após a independência.
Origem dos protestos e causas da crise
As manifestações começaram no final do mês passado, motivadas por apagões e falta d’água generalizada, mas evoluíram para uma reivindicação mais ampla contra a corrupção, nepotismo e a má gestão do governo de Rajoelina. Em uma mensagem transmitida à nação em 29 de setembro, o próprio presidente reconheceu o sofrimento causado pelos problemas econômicos e tentou se posicionar como alguém atencioso às demandas populares.
“Reconhecemos e pedimos desculpas se membros do governo não cumpriram suas tarefas”, disse Rajoelina na ocasião. “Entendo a raiva, a tristeza e as dificuldades causadas por esses problemas de abastecimento, ouvi o apelo e senti a dor do povo.”
Perspectivas futuras e consequências
A crise em Madagascar colocou o país numa fase de incerteza política, com o ex-presidente Rajoelina fora de cena e as Forças Armadas assumindo um papel central na condução do processo de transição. Observadores internacionais aguardam a formação de um novo governo e o restabelecimento da ordem constitucional na ilha com cerca de 29 milhões de habitantes.
A comunidade internacional deve acompanhar de perto a evolução da situação, enquanto atores locais e militares buscam evitar um conflito maior, reforçando a necessidade de diálogo e de um planejamento para eleições livres e democráticas.