Durante o congresso “Fazer-se próximo na esperança. Testemunho das religiões e diplomacia da caridade política”, realizado em Roma pela associação internacional Carità Politica, o arcebispo Paul Richard Gallagher, secretário para as Relações com os Estados e Organizações Internacionais, trouxe insights sobre a atuação da Santa Sé nas relações internacionais. Em sua apresentação, Gallagher enfatizou que manter canais abertos, mesmo com “regimes autoritários”, pode levar a intervenções mais eficazes do que simples condenações públicas, evidenciando a necessidade de uma diplomacia que atenda não apenas a interesses particulares, mas a um bem comum.
A essência da diplomacia vaticana
De acordo com Gallagher, o conceito de “fazer-se próximo” é fundamental para a diplomacia da Santa Sé. Isso inclui, por exemplo, o ato simbólico do Papa ao receber as credenciais de um embaixador, que reflete o compromisso de se aproximar do outro e reduzir distâncias, como costuma lembrar o Papa Francisco. A diplomacia da Santa Sé, portanto, não é retirante, mas engajada, buscando promover estabilidade e promover o bem comum, factíveis ao abrir canais de diálogo com diferentes nações.
No discurso, o arcebispo fez referência à parábola do bom samaritano, que exemplifica a responsabilidade em relação ao próximo. Este modelo é aplicado na prática da diplomacia vaticana, que busca contribuir para a reaproximação entre países, como foi o caso das negociações entre os Estados Unidos e Cuba e das conversas de paz na Colômbia. Cada ação da Santa Sé traduz a esperança em atos concretos de diplomacia, com base em avaliação de riscos, e recusa a resignação frente às crises.
Entre urgências e uma visão de futuro
Gallagher explicou que a diplomacia vaticana opera em dois níveis: por um lado, responde às crises e tensões imediatas, e por outro, procura estabelecer uma visão de longo prazo, desvinculada dos ciclos eleitorais típicos de muitos países. “Não é um luxo, mas uma necessidade estratégica”, ressaltou. Se não houver uma esperança ampla, as soluções propostas tendem a ser frágeis.
O secretário identificou as dificuldades enfrentadas em contextos geopolíticos complexos e enfatizou que, além das crises, questões como a aceleração tecnológica e a crise ambiental exigem novas formas de colaboração internacional. Apesar dos desafios, ele acredita que esses problemas poderiam catalisar o multilateralismo, embora isso nem sempre ocorra de maneira efetiva.
Os custos da diplomacia e a necessidade de diálogo
Durante sua fala, Gallagher também abordou a importância do diálogo, que muitas vezes implica riscos. A manutenção de relações com diversas nações pode ser vista como um sinal de complacência frente a regimes autoritários, mas ele defendeu que a presença diplomática é crucial para influenciar sistemas que de outra forma seriam inalcançáveis. A moralidade da Santa Sé, à medida que não defende interesses materiais, confere-lhe a capacidade de reafirmar princípios éticos sinceros, mesmo que desafiadores.
No entanto, o arcebispo destacou que a escuta nem sempre é garantida, pois os apelos podem não ser respondidos em meio a interesses geopolíticos emergentes. As decisões diplomáticas também são acompanhadas de altos custos morais e geralmente se posicionam entre o bem absoluto e o mal absoluto. A neutralidade, embora importante, pode ser um obstáculo quando a situação exige uma posição mais firme.
Reflexões sobre migração e a busca pela paz
O arcebispo Gallagher também se dedicou ao tema da migração, defendendo uma abordagem integral que examine as causas profundas desse fenômeno, transformando emergências em oportunidades. Referindo-se à “terceira guerra mundial em pedaços”, mencionada pelo Papa Francisco, ele enfatizou a necessidade de promover uma teologia da paz que vá além de simplesmente evitar conflitos, buscando criar relações justas entre os povos.
O diálogo inter-religioso representa um importante campo para a diplomacia vaticana, assim como a promoção do multilateralismo, que é vista não como uma ideologia, mas como uma convicção. Gallagher disse: “Os desafios globais, da pandemia à crise climática, não podem ser enfrentados isoladamente”.
Exposição no congresso e o apelo à esperança
Ao final do congresso, os participantes puderam visitar uma exposição de obras que retratam a visão de futuro idealizada em diversos Jubileus. As obras, de artistas de diferentes partes do mundo, refletem ideias sobre como deve ser o mundo e, entre elas, destaca-se uma criação japonesa elaborada com Inteligência Artificial, que combina diversas imagens.
O congresso e suas reflexões deixam um forte apelo à ação e à esperança, reafirmando o compromisso da diplomacia da Santa Sé em unir pessoas e nações em um esforço contínuo pela paz.