No episódio de abril de 2025 do programa de Charlie Kirk, Erika Kirk, esposa do falecido líder conservador Charlie Kirk, reforçou a visão de uma “união bíblica” onde o homem é o provedor e a mulher deve cuidar do lar. Ela afirmou que o homem deve “conquistar” e “batalhar”, enquanto a mulher apoia, acolhendo seu esposo ao chegar em casa.
O papel da mulher na visão conservadora tradicional
Erika Kirk, de 36 anos, defende que o casamento é mais forte quando o homem se dedica à provisão, mesmo admitindo que, em ocasiões, homens precisam ficar em casa. Ela destacou que sua própria experiência familiar foi positiva, embora seus pais tenham se divorciado, reforçando a ideia de que o provedor deve ser o homem.
Pouco mais de uma semana após o ataque que resultou na morte de Charlie Kirk, Erika foi nomeada CEO e presidente do conselho da Turning Point USA, a organização de sua família. Segundo a gestão, a escolha ocorreu por desejo do próprio Charlie Kirk, expresso em discussões anteriores.
Contradições na mensagem conservadora de Erika Kirk
Apesar de promover valores tradicionais de submissão feminina, Erika Kirk agora ocupa uma posição de liderança no maior think tank conservador dos EUA, situação vista por analistas como uma contradição às suas próprias palavras sobre mulheres e carreiras.
Especialistas, como a professora Shauna Shames, compararam Erika a figuras históricas como Phyllis Schlafly, que construiu uma carreira de destaque enquanto defendia o papel subserviente da mulher no lar. Schlafly, uma mom de seis filhos, ficou conhecida por liderar campanhas contra a igualdade de gênero na década de 1970.
Raízes e legado de Schlafly
Phyllis Schlafly personificou uma estratégia de equilibrar a militância política com a imagem de uma mãe e esposa tradicionais. Ela defendia que seu compromisso com o lar era compatível com sua atuação política, muitas vezes reforçando que seu marido permitia sua participação pública.
Hoje, Erika Kirk, com formação universitária e uma trajetória pública, mantém uma imagem de mulher devota à família, mas também de liderança no cenário mainstream conservador.
Conservadores justificam dualidade de papéis femininos
Para figuras como o professor Donald Critchlow, a ideia de que mulheres podem desempenhar funções conflitantes — ser mãe, dona de casa e líder — é compatível com o conservadorismo, desde que faça parte do “plano divino” e sob a aprovação do marido ou do pai.
Já especialistas como Amy Binder veem na atuação de Erika uma expressão de uma norma que incentiva mulheres a serem o que chamam de “mães e esposas primeiro”, usando a carreira como ferramenta de suporte à família tradicional.
O impacto econômico na vida das mulheres
Apesar das declarações idealizadas, a realidade financeira é alarmante. Segundo o Pew Research Center, a maior parte das famílias não pode sustentar-se com um único salário, e a participação feminina no trabalho também enfrenta obstáculos, como o aumento do custo do cuidado infantil.
Dados indicam que mães nos EUA gastam cerca de 24% de sua renda em creches, valor excessivo frente à média considerada acessível pelo governo, de 7%. Assim, a maioria das mulheres precisa equilibrar emprego e cuidado familiar, muitas vezes sem o suporte financeiro necessário.
Feminismo e resistência aos papéis tradicionais
Apesar do apagamento de certas vozes, a resistência ao modelo tradicional continua forte. Especialistas destacam que o movimento feminista não será derrotado por discursos conservadores ou figuras como Erika Kirk, mas revela-se um reflexo de demandas sociais mais amplas por autonomia, direitos e igualdade.
Segundo a professora Shauna Shames, a ideia de “acabar com o feminismo” é mais uma narrativa do que uma realidade, já que a década atual é marcada por uma participação feminista global elevada, com mais mulheres acessando opções e possibilidades de vida.
Perspectivas futuras na luta pelos direitos das mulheres
Erika Kirk, em sua homenagem ao marido, afirmou que a luta conservadora deve continuar, mesmo em face de críticas e desafios. No entanto, especialistas alertam que a luta por igualdade e autonomia de mulheres no século XXI é uma configuração irreversível, sustentada por fatores econômicos, sociais e culturais.
Assim, o debate sobre o papel da mulher na sociedade moderna permanece vivo, desafiando interpretações rígidas e promovendo uma transformação que, por mais que resistam, parece implacável.