No episódio de abril de 2025 do programa de Charlie Kirk, Erika Kirk, esposa do polêmico comentarista conservador, discutiu a submissão e o papel tradicional da mulher em um casamento bíblico, reforçando ideias que agora ela também representa ao liderar a organização de seu falecido marido. Após a morte dele em um confronto em Utah, Erika foi nomeada CEO e presidente do conselho da Turning Point USA, provocando debates sobre o contraste entre sua trajetória e a mensagem de submissão feminina que ela pregava.
De esposa submissiva a lideradora conservadora
Antes, Erika afirmava que, na visão conservadora, o homem deveria ser o provedor, quem enfrenta o mundo lá fora, enquanto a mulher cuida do lar. Ela admitiu que, em sua infância, seu próprio pai trabalhou em tempo integral, mas que o casamento de seus pais acabou se dissolvendo, o que ela interpretou como um sinal de que uma união é mais forte quando o homem lidera financeiramente.
Agora, ela ocupa o comando de uma organização que promove o conservadorismo e valores tradicionais. Sua nomeação foi “unânime”, e a explicação oficial foi que Charlie Kirk desejava sua liderança no caso de sua morte, conforme revelou o conselho da entidade.
Contradições com o discurso anterior
Recentemente, Erika reforçou sua decisão de manter viva a missão do marido e discursou diretamente ao assassino dele, dizendo que “a fogo que ele acendeu dentro dela”. Entretanto, sua mudança de papel — de defensora do papel tradicional da mulher para CEO de um grupo influente — levanta questões sobre a coerência entre suas mensagens públicas e suas ações atuais.
Especialistas em política conservadora analisam sua trajetória e apontam que essa dualidade não é rara. Shauna Shames, professora de ciências políticas e estudos de gênero na Rutgers University, afirma que figuras como Erika representam uma continuidade de uma tradição que mistura ativismo político com papéis tradicionais de gênero. Ainda assim, a mudança de Erika evidencia um conflito interno ou uma adaptação às exigências do mundo moderno.
O legado de Phyllis Schlafly e o papel das mulheres na política conservadora
A trajetória de Erika Kirk e sua postura atual remetem à de Phyllis Schlafly, ícone do conservadorismo americano, que balançou entre o ativismo político e a promoção de uma visão de mulher que valoriza o lar. Schlafly, que liderou a oposição à Emenda da Igualdade de Direitos na década de 1970, também conciliava sua carreira com a defesa de valores tradicionais, sempre apoiada pelo seu marido.
Segundo o professor Donald Critchlow, a visão conservadora permanece a mesma: as mulheres devem priorizar a família, mas podem participar de atividades cívicas ou políticas sob permissão de seus parceiros masculinos. Para ele, a ideia de “ter tudo”, ou seja, carreira e vida tradicional, só é viável para as wealthy or elite. Para a maioria, as opções permanecem limitadas.
O paradoxo da participação feminina na política conservadora
Apesar da aparente contradição, teóricas como Amy Binder veem essa postura como uma estratégia de reforço às normas tradicionais: as mulheres podem ser figuras públicas, mas desde que promovam as virtudes da submissão e do lar. Nesse contexto, Erika Kirk representa um símbolo da força do conservadorismo em adaptar-se às mudanças, mantendo a essência de uma ideia de mulher “bob da sua casa”.
As implicações para o movimento conservador e o futuro do feminismo
Apesar de alguns críticos alegarem que a ascensão de Erika Kirk sinaliza o “fim do feminismo”, a professora Shames ressalta que o movimento feminista continua forte, especialmente considerando o aumento do número de mulheres com mais opções de vida. O conservadorismo tenta revitalizar a narrativa de que a verdadeira liberdade feminina está na submissão tradicional, mas a realidade social demonstra o contrário.
Joanne Perry, analista política, acredita que a história mostra que figuras como Schlafly e agora Erika Kirk representam uma resistência às mudanças sociais, mas nunca o seu desaparecimento. “O feminismo, de uma forma ou de outra, sobrevive às tentativas de contrariá-lo,” ela afirma.
Por ora, Erika Kirk continua a sua trajetória, defendendo valores tradicionais e assumindo um papel de liderança no movimento conservador. Sua história mostra que, mesmo em tempos de mudanças rápidas, as narrativas antigas sobre gênero e poder continuam influentes — e controversas.
Este artigo foi originalmente publicado na HuffPost e reflete debates atuais sobre o papel das mulheres na política e a influência do conservadorismo na América.