No Cariri cearense, as iniciativas de leitura têm emergido como verdadeiros faróis de resistência e reencontro. Os clubes de leitura estão cada vez mais presentes nesse contexto, oferecendo mais do que simples discussões literárias: eles promovem encontros significativos, escuta ativa e transformação pessoal. Várias mulheres estão se reunindo para ampliar suas experiências e pensar sobre diversidade, autores e temas fundamentais que permeiam a literatura contemporânea.
Clube de leitura em Juazeiro do Norte
Um dos exemplos mais notáveis é o clube de leitura fundado por duas professoras em Juazeiro do Norte. Transformando as dificuldades enfrentadas durante a pandemia em uma oportunidade, o grupo se reúne mensalmente para debater obras de diversos autores. Com foco em literatura que provoca reflexão e tratamento de questões humanas, a idealizadora Dalva Alencar explica que não se limitam apenas a autores nacionais, mas buscam diversidade em temas, como a “literatura de cura”, um estilo que ganhou destaque nas últimas reuniões.
Atualmente, o clube conta com dois grupos que reúnem cerca de 40 participantes, entre professoras, fisioterapeutas, advogadas e psicólogas. A professora Mônica Nóbrega ressalta a importância do encontro: “É uma experiência que começou a partir de um sonho, mas que hoje consiste na reunião dessas mulheres, e isso é muito especial para a gente”. Cada reunião não se limita ao conteúdo literário, mas se expande para a construção de vínculos afetivos e troca de experiências.
A magia da caixinha surpresa
Um diferencial do clube em Juazeiro é a assinatura mensal que as participantes recebem, composta por uma caixinha surpresa. Essa caixinha inclui um livro, uma carta sobre a escolha e pequenos mimos, como marcadores de página. Para as integrantes, o momento de abrir a caixa se tornou quase um ritual, carregado de expectativa e carinho.
A escritora e professora Soderlânia Oliveira, uma das participantes, destaca como a leitura é um instrumento de cura e conexão. “Ler me cura, é afeto, é tudo. Conheço novos mundos e a literatura ensina desde cedo a importância de conviver com as diferenças”, afirma Soderlânia, que também busca abordar a educação inclusiva em seus livros infantis.
Nordestinados a ler: valorizando autoras nordestinas
Outro projeto de destaque na região é o “Nordestinados a Ler”, que começou como um blog literário na Universidade Federal do Cariri e rapidamente se transformou em um clube de leitura voltado para a valorização da literatura nordestina. A idealizadora Luciana Bessa afirma que o objetivo é trazer à tona autoras regionalmente relevantes e discutir temas como gênero, território e identidade.
Os encontros ocorrem mensalmente, permitindo que os participantes lei mais sobre um estado específico do Nordeste e compartilhem suas perspectivas. Luciana observa que muitos já são leitores, mas se surpreendem ao descobrir escritoras brasileiras que não conheciam. O projeto também busca levar a literatura para as escolas em Crato e Juazeiro do Norte, revelando novos talentos na escrita entre jovens estudantes.
Ciranda de Livros: um espaço de acolhimento e partilha
O clube Ciranda de Livros, idealizado pela dentista Aline de Alencar, surgiu há dez anos com a proposta de compartilhar a paixão pela literatura. Inicialmente realizado dentro de uma livraria, os encontros se adaptaram à pandemia, permitindo que a experiência continuasse mesmo em formato virtual. Em 2023, a psicóloga Júlia Barreira assume a coordenação do grupo, que agora se reúne em cafés locais, ampliando a ideia de um ambiente acolhedor e afetivo.
Júlia descreve o Ciranda como um espaço de partilha existencial, onde os participantes discutem a vida e assuntos diversos que surgem das leituras. A advogada Raynara Sousa considera os encontros terapêuticos, destacando a importância da partilha e do acolhimento proporcionados pelo grupo. “O clube é acolhedor, de muita escuta e sintonia”, afirma.
Biblioteca Aqui e Agora: construindo vínculos
Outro exemplo de sucesso na região é a Biblioteca Aqui e Agora, criada pela psicóloga Maria Beatriz de Souza Lima, que buscava formas de combater a solidão. Juntamente com sua amiga Emilly da Silva, esta iniciativa reúne cerca de vinte mulheres em encontros mensais que têm oferecido uma rica troca de experiências e insights sobre a literatura e a vida.
As integrantes podem escolher os livros que desejam ler, promovendo uma diversidade de visões e discussões. A psicóloga Silvia Morais aponta que o grupo serve como um espaço seguro para compartilhar questões pessoais, algo que muitas participantes não se sentem confortáveis em discutir em casa ou no trabalho. “Os livros ajudam a conectar o que é a vida real com o que está na literatura”, conclui.
No Cariri, os clubes de leitura têm se mostrado muito mais do que simples grupos de discussão literária. Eles têm se tornado verdadeiros núcleos de resistência, transformação e apoio, onde a literatura se entrelaça com a vida de suas participantes, criando laços significativos e trocas emocionantes na jornada da leitura.