A cidade do Rio de Janeiro foi recentemente mencionada em um estudo publicado na renomada revista científica The Lancet Regional Health – Americas, em colaboração com o Banco Mundial e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). A pesquisa, que faz parte da edição de outubro da publicação, insere o Rio de Janeiro como um exemplo positivo no contexto da saúde pública na América Latina e no Caribe, destacando a evolução dos serviços de saúde e a capacidade de resposta a crises sanitárias.
A transformação da saúde pública no Rio de Janeiro
O relatório, intitulado “No time to wait: resilience as a cornerstone for primary health care across Latin America and the Caribbean”, traz à tona a trajetória da saúde pública na capital fluminense. Até 2008, a estrutura do sistema municipal de saúde era bastante descentralizada e focada em hospitais. A epidemia de dengue daquele ano, que resultou em mais de 235 mil casos, expôs as fragilidades desse modelo, impulsionando uma reconfiguração abrangente a partir de 2009.
Desde então, a cidade passou a adotar um novo modelo, priorizando as Equipes de Saúde da Família (ESF). A ampliação desse serviço foi viabilizada por meio de investimentos federais e locais em vigilância e atenção primária. As melhorias na cobertura foram notáveis: entre 2008 e 2016, a cobertura das equipes saltou de 3,5% para mais de 70%, atingindo cerca de 80% em 2024. Essa evolução teve repercussões diretas na redução da mortalidade infantil, na diminuição de internações evitáveis e no melhor controle de doenças crônicas, conforme o estudo.
Resiliência em tempos de crise
O documento destaca que o Rio enfrentou uma série de choques nos últimos anos, desde epidemias de arboviroses, como Zika e dengue, até ondas de calor e problemas relacionados à violência. A estrutura de atenção básica foi fundamental para garantir o atendimento contínuo à população nestes períodos críticos. Durante a pandemia de COVID-19, o estudo descreve duas fases distintas: a inicial, marcada pela escassez de insumos e preparação inadequada, e a segunda, após 2022, quando a cidade reestruturou sua abordagem ao ampliar testagem, rastreamento de contatos e vacinação.
Essas modificações transformaram as clínicas da família em centros de monitoramento e inovação, utilizando dados em tempo real e estabelecendo protocolos de resposta rápida. Com o surgimento de um novo surto de dengue em 2024, que resultou em mais de 100 mil casos, o sistema foi novamente testado. A atenção primária atuou como um filtro, identificando casos mais graves e assegurando atendimentos essenciais, reduzindo assim a pressão sobre os hospitais de emergência.
Planos de contingência e integração de serviços
Além desses avanços, o estudo menciona a criação de planos de contingência para enfrentar ondas de calor. Estes planos incluem ações como estações de hidratação, mapeamento de vulnerabilidades e integração com órgãos de Defesa Civil, Educação e Assistência Social. A conclusão do relatório é otimista: o Rio de Janeiro transformou a sua atenção primária em um “centro de resposta, continuidade e inovação”, incorporando práticas de resiliência e gestão de crises no cotidiano das unidades de saúde.
Essa avaliação positiva da saúde pública no Rio de Janeiro é um sinal de que, apesar dos desafios, é possível desenvolver um sistema de saúde mais integrado e resiliente. O trabalho conjunto de profissionais e instituições é essencial para garantir que a saúde da população seja sempre prioridade, mesmo em tempos difíceis.
O estudo não só destaca os êxitos alcançados, mas também reforça a importância da atenção primária e da saúde pública como pilares fundamentais para a construção de cidades mais saudáveis e preparadas para enfrentar qualquer epidemia ou crise sanitária no futuro.
Para mais detalhes sobre o relatório e como o Rio de Janeiro se destacou neste contexto, acesse a reportagem completa no G1.