Brasil, 12 de outubro de 2025
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Doutor Brinquedo: o homem que conserta memórias e devolve sorrisos

Entre bonecas, carrinhos e uma infinidade de pecinhas minúsculas, um sobrado discreto no Centro de Santos, São Paulo, abriga um dos prontos-socorros mais lúdicos da cidade. Nesse local, no andar de cima de uma portinha estreita, Miguel dos Santos, de 66 anos, se transforma no “Doutor Brinquedo”, título conquistado por aqueles que confiariam a ele a missão de devolver vida a brinquedos que carregam consigo memórias e histórias.

A magia da reparação

Avô de duas crianças, o cirurgião-dentista Mário Roberto Leite é um dos muitos clientes leais do Doutor Brinquedo. Ele compartilhou que o controle remoto do carrinho favorito de seu neto, também chamado Luigi, havia parado de funcionar, causando uma grande angústia para a criança. “Eu já conhecia a capacidade técnica do Doutor Brinquedo, então vim recorrer a ele, pela presteza e rapidez”, disse Mário, que se diverte ao notar a coincidência dos nomes.

Um local repleto de memórias

A oficina de Miguel é um verdadeiro labirinto de lembranças. Bonecas sem braço, carrinhos sem rodas, robôs mudos e trenzinhos parados aguardam por sua “cirurgia”. Cada brinquedo tem um valor que vai muito além do plástico, representando parte da história e da infância de crianças e adultos.

A confiança das famílias

Chamando-se de médico, Miguel consegue conquistar a confiança dos pais, ou como ele prefere, dos “papais e mamães dos pacientes”. Para as crianças, suas bonecas não representam apenas objetos, mas sim seres amados. Antes de autorizar o conserto, muitos pais querem saber se ele realmente é um médico. Miguel, com um sorriso, responde que é “médico de bonecas e brinquedos” e, só assim, recebe o aval para iniciar o trabalho.

Uma nova demanda na pandemia

Durante anos, Miguel dedicou-se ao conserto de máquinas fotográficas e projetores, um ofício silencioso que ocupava boa parte de seu tempo. Contudo, com a chegada da pandemia, a demanda por esses serviços caiu drasticamente. Foi nesse cenário que novos desafios começaram a aparecer: as crianças, restritas em casa, redescobriram seus brinquedos quebrados e esquecidos. Miguel, então, começou a voltar aos poucos ao seu ofício. “Hoje eu sou o Doutor Brinquedo”, resume, referindo-se ao conhecimento que adquiriu, não só sobre brinquedos, mas também sobre a importância emocional que eles têm.

Uma missão de responsabilidade

Ser o Doutor Brinquedo não é uma tarefa simples. Miguel já passou noites sem dormir por causa de um trenzinho elétrico que pertencia a uma criança que havia falecido. O pai da criança queria que Miguel restaurasse o brinquedo com perfeição, dando preferência à originalidade em vez de se preocupar com o preço. “Aquilo me marcou”, admite Miguel, revelando o peso emocional que essa missão carrega.

Paciência e dedicação

Em vez de um relógio, Miguel usa uma ampulheta no pulso para ensinar paciência à sua clientela exigente, que inclui tanto crianças quanto adultos. Em média, os reparos levam uma semana para serem concluídos, e para ele, cada conserto é muito mais do que um simples trabalho. “O que eu deixo para o mundo é isso: um conserto. Pode parecer pouco, mas pra mim tem valor.” A maior alegria, diz ele, é ver um sorriso no rosto de uma criança. “E eu não tô falando só de crianças de pouca idade, mas de crianças de todas as idades.”

Neste contexto, o trabalho do Doutor Brinquedo se torna um serviço essencial na vida de muitas pessoas. Ele não apenas repara objetos, mas também resgata lembranças e emoções que, de outra forma, poderiam se perder com o tempo.

Em um mundo repleto de tecnologia e novas formas de entretenimento, a dedicação de Miguel e sua capacidade de trazer de volta a alegria por meio dos brinquedos são um lembrete poderoso do valor das memórias de infância e da conexão humana.

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