BRISTOL, Inglaterra — Recentemente, uma pesquisa da empresa britânica de aprendizado no local de trabalho Sponge revelou que os trabalhadores não estão se sentindo mais realizados ou inspirados em seus empregos. Em vez disso, ao serem questionados sobre como descreveriam sua relação com o trabalho em uma palavra, muitos optaram por termos como “cansado”, “sobrevivendo” e “desinteressante”. Essa pesquisa mostra uma realidade preocupante: os empregados estão se sentindo emocionalmente exaustos e muitos consideram deixar seus empregos por conta desses sentimentos.
Desconexão no local de trabalho
O estudo, que envolveu 520 colaboradores de grandes empresas, trouxe à tona um fenômeno conhecido como “desconexão emocional”. Quase metade dos entrevistados, 46%, admitiu ter pensado em sair do emprego devido à sensação de estar emocionalmente exausto ou indiferente. Apenas 3% já abandonaram suas funções por esse motivo.
A pesquisa fez ainda uma análise mais aprofundada das emoções que estão afetando a jornada profissional dos colaboradores. Intitulado “Geração Numb”, o relatório destaca que, embora reações agudas como ansiedade e sobrecarga ainda estejam presentes, o que predomina é uma nova fase de “shutdown emocional”, levando à apatia e à falta de engajamento com o trabalho.
Mudanças na empresa: desinteresse e ansiedade
Quando mudanças são anunciadas nas organizações, 30% dos empregados relatam sentir-se “apáticos ou indiferentes”, enquanto 17% alegam não sentir nada. Apenas 23% se sentem “inspirados ou animados” com essas novidades. Para muitos, as mudanças no ambiente de trabalho tornaram-se fardos a suportar em vez de oportunidades a serem abraçadas.
“O que estamos vendo agora é o impacto da resistência emocional acumulada nos últimos anos, em meio a incertezas e mudanças constantes, intensificadas pela pandemia”, explicaram os autores da pesquisa. Essa realidade reflete uma nova experiência emocional predominante, longe da abordagem tradicional de estresse ou esgotamento.
Sobrevivendo ou prosperando?
Quando questionados sobre como se sentem em relação às suas carreiras atualmente, 38% dos trabalhadores indicaram que estão “apenas sobrevivendo”. Apenas 8% escolheram “estou prosperando”. Essa tendência de resignação é ainda mais alarmante quando 63% dos trabalhadores relatam sentir-se desconectados de colegas, mesmo em um ambiente de comunicação digital ininterrupta através de plataformas como Slack e Zoom.
A consequente falta de conexão não apenas impacta a moral, mas também gera desengajamento e ceticismo. Muitos não se sentem à vontade para buscar ajuda quando enfrentam essas dificuldades emocionais. Quando perguntados sobre o que impede a busca por apoio, 38% disseram: “Não acho que faria diferença”.
A falta de propósito e valorização
Os fatores que mais contribuem para essa desapatia incluem a sensação de não serem valorizados (27%) e a falta de propósito ou significado no trabalho (19%). Outros motivos mencionados foram a falta de prioridades claras, a pressão psicológica e o excesso de reuniões online.
Essas descobertas são preocupantes, pois sugerem que a exaustão emocional no trabalho não é uma fase temporária, mas sim uma nova norma. Trabalhadores que, certa vez, se sentiram motivados e engajados agora estão apenas tentando sobreviver em um ambiente que não oferece apoio ou compreensão.
Qual a solução?
No cenário atual, onde a saúde mental no ambiente de trabalho se tornará um tema cada vez mais discutido, é vital que as empresas reavaliem como abordam o bem-estar de seus colaboradores. Promover um ambiente onde os empregados se sintam seguros para expressar suas dificuldades e buscar ajuda será crucial para reverter essa tendência de desengajamento.
Na pesquisa, somente 26% dos participantes afirmaram que se sentem “muito seguros” ao expressar suas preocupações emocionais. Mais da metade dos colaboradores enfrenta conflitos diários entre suas prioridades pessoais e as demandas profissionais.
Para enfrentar a exaustão emocional, as organizações precisam agir proativamente, criando culturas de apoio e diálogo aberto. Somente assim será possível restaurar a conexão entre os colaboradores e seus trabalhos, promovendo um ambiente onde todos se sintam vivos e motivados a contribuir.
Os dados desta pesquisa são um chamado de alerta. A desumanização precipitada no ambiente de trabalho pode gerar consequências negativas não só individuais, mas também para a produtividade e a cultura organizacional como um todo. Se não forem abordadas, essas questões podem levar a um número crescente de trabalhadores a deixar suas funções, criando uma perda significativa de talentos em climas corporativos já fragilizados.
Conclusão
O estado atual do local de trabalho precisa ser urgentemente repensado. Com tantos colaboradores sentindo-se sobrecarregados e desconectados, é fundamental implementar estratégias que promovam a saúde emocional, restabelecendo um ambiente de trabalho dignificado e significativo. O futuro depende de como as empresas reagirão a esses desafios.